Ataques de tubarão a banhistas; saiba por que eles acontecem

Tubarão-tigre é comum em toda a costa brasileira | Foto: Imagem ilustrativa/Pixabay

Por: Elisângela Pezzutti

09/03/2023 - 13:03 - Atualizada em: 10/03/2023 - 09:32

Esta semana, em menos de 24 horas, foram registrados dois casos de ataque de tubarão a banhistas na costa pernambucana. No domingo (5), um adolescente de 14 anos foi mordido na perna e precisou amputar o membro. Na segunda (6), uma jovem de 15 anos foi mordida no braço esquerdo. Ambos passaram por cirurgia e se recuperam no Hospital da Restauração, em Recife (PE).

No local onde ocorreram os ataques – na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE) – já foram registrados 16 incidentes com tubarão desde 1992.

Por que os ataques acontecem?

De acordo com o professor Rodrigo Mazzoleni, coordenador do curso de Oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que atua há 30 anos com pesquisa em bio-ecologia de tubarões e arraias, determinar o que leva tubarões a atacarem banhistas é sempre uma questão controversa.

“Há uma série de fatores que vão desde o comportamento da espécie, questões ambientais locais, como, por exemplo, se há canais profundos ao longo da praia (como é o caso da região da cidade de Recife), se existe atividade portuária ou atividade pesqueira por perto, se ocorre o deságue de um estuário (área alagada de transição entre o rio e o mar) de um grande rio por perto, se a água desse rio joga muito lixo e poluição para o mar”, explica.

“É uma série de situações com características que são complexas em cada local, em se tratando da questão ambiental e oceanográfica, que também envolve corrente marinha e temperatura da água”, observa.

Professor Rodrigo Mazzoleni, coordenador do curso de Oceanografia da Univali, trabalha há 30 anos com pesquisa em bio-ecologia de tubarões e arraias | Foto: Arquivo pessoal

 

Mazzoleni destaca que na questão da biologia e da ecologia, não são todas as espécies de tubarão que atacam as pessoas “São poucas, na verdade, e são animais que têm características muito específicas quanto ao tamanho, à força e ao tipo de alimentação”.

O professor também explica que na região de Recife e Olinda, no Pernambuco, existem algumas características importantes a serem observadas. “Do ponto de vista ambiental, são praias que têm arrecifes (formações rochosas submersas logo abaixo da superfície de águas oceânicas, normalmente próxima à costa e em áreas de pouca profundidade) que formam um canal com águas mais profundas, que permitem que espécies de tubarão de maior porte, consideradas mais perigosas, consigam circular ao longo das praias”, diz.

Em busca de alimento

“Outra coisa foi a construção do porto de Suape naquela região nos idos dos anos 1990, que interditou parte de um estuário que causou problemas do ponto de vista da biologia das espécies, porque trancou áreas de bercário de algumas espécies de tubarão, e áreas de alimentação desses animais”, ressalta.

“Há, ainda, o estuário do rio Jaboatão que deságua naquela região. Antigamente também tinham alguns curtumes e frigoríficos que operavam naquela área e lançavam restos de animais, sangue, vísceras e tudo mais no mar. Hoje, então, há espécies ali de grande porte que são de água quente, principalmente o tubarão-touro, que pode atingir 3,5 metros de comprimento, e o tubarão-tigre, que pode chegar a 5 metros, e frequentam essa região. São animais grandes, carnívoros, e que costumam ‘investigar’ áreas costeiras atrás de presas”, afirma Mazzoleni.

Mudanças climáticas

“Além de tudo isso, existem outros tipos de mudanças, como por exemplo, a mudança na quantidade e qualidade dos peixes que estão na região costeira. Como nós poluímos e pescamos outras espécies de peixe, essa diminuição da comida também influencia para que esses animais busquem outras fontes de alimento. Há também a questão das mudanças climáticas. Temos observado cada vez mais que essa mudança no clima está acontecendo também nos oceanos e isso influencia os animais no ambiente oceânico e, consequentemente, os tubarões também”, finaliza.

O que fazer em caso de ataque

O comandante dos Bombeiros Voluntários de São Francisco (SC), João Júnior, informou que desconhece o registro de ataques de tubarões na costa catarinense, por isso não há placas de prevenção ou aviso sobre isso.

“Porém, em um eventual caso de ataque, os serviços de urgência e emergência devem ser imediatamente acionados, com deslocamento imediato a uma unidade de saúde para estabilização do paciente”, orienta.

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.