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Amorosidade, presença e cuidados diários: jaraguaenses compartilham experiências com a paternidade

Por: Natália Trentini

08/08/2021 - 05:08

A paternidade tem significados únicos na vida de cada pessoa. Mas muitos homens têm se aprofundado nessa experiência de vida como uma forma de descobrir novas formas de expressão e ressignificar padrões.

O empresário e advogado Osmar Graciola Junior, 34 anos, afirma que se transformou em uma pessoa mais pacífica, ouvinte e coerente após o nascimento da Paula, de 8 anos, e da Laís, de 4.

Para ele, o aprendizado foi perceber que existe muito mais a receber do que a oferecer. “Os ensinamentos que nos trazem de volta à pureza do coração infantil são os verdadeiros aprendizados. Pouca coisa eu acrescento à vida delas senão experiências que lhes trarão clareza das coisas como elas são e como devem ser”, complementa.

Osmar com as filhas Laís e Paula. Foto: Arquivo Pessoal

Ao ter o primeiro filho, o terapeuta tântrico Bruno Henrique da Cruz, 31 anos, também viu mudanças profundas em si mesmo. Antes, se percebia autocentrado, vendo o mundo girar ao redor dele. Com a chegada do João Victor, hoje com 7 anos, isso mudou.

“Eu amadureci muito, despertou um sentimento agradável de responsabilidade”, conta, relembrando o quanto a paternidade tem o ajudado a compreender o próprio pai: as noites mal dormidas, as preocupações, esforços. “Hoje tudo faz mais sentido. Estando na posição de pai dos meus filhos, pude ver a honra que é ser filho do meu pai.”

E a chegada da pequena Aurora, de apenas 4 meses, balançou a vida de novo. “Agora trouxe um sentimento de amor pela vida, uma aproximação com Deus. Meus filhos me ensinam que a vida é muito mais do que trabalhar, dormir e pagar contas. O olhar sorridente de uma criança transforma a vida”, diz.

Bruno e a pequena Aurora. Foto Arquivo Pessoal

Para o metalúrgico Jean Jung, 39 anos, a vida com a pequena Lis, de 2, o fez mudar a forma com que enxergava a vida e o tornou mais flexível, vendo mais valor no ser humano e menos valor nos bens materiais – abrindo a sensibilidade de amar e valorizar as pequenas coisas.

“No momento atual os pais têm mais liberdade e parceria de ter mais momentos em família, poder dialogar e compartilhar seus sentimentos com família e filhos”, considera.

Jean, a esposa Janaina e a filha Lis. Foto: Arquivo Pessoal

Presentes e amorosos

O terapeuta Bruno da Cruz pontua que uma geração, como ele, foi ensinada que homens precisam ser fortes o tempo todo, como consequência, muitos não sabem demonstrar amor, carinho e gentileza.

Ele percebe uma transformação gradativa entre as gerações, saindo do padrão da figura do pai que castiga e dita regras.

“Trabalhei isso em mim para que meu filho não precisasse repetir esse padrão e de brinde eu ganhei aproximação dos meus filhos. Me sinto à vontade para conversar, brincar e participar da vida deles. Eu quero que eles sintam amor por mim, não medo”, ressalta.

Da mesma forma, Osmar ressalta que percebe maior presença dos pais na vida dos filhos, longe daquela imagem do homem que trabalha 12 horas por dia. Entretanto, muitos ainda têm medo de perder o controle da situação – mas acredita que os pais devem buscar conexão, auxiliar na jornada, sem querer trilhar o caminho por eles.

“Espero estarmos entrando numa era de pais mais compreensivos, mais amorosos, mais emotivos, para que a conexão com os filhos seja mais sincera e aberta”, complementa.

Presença, diálogo e amorosidade são essenciais, define Osmar. Foto Arquivo Pessoal

Descobrindo a paternidade

Com 19 anos de idade, Josemar Sacks, hoje com 27, se descobriu pai ao se tornar companheiro da Simone, que tinha uma filha pré-adolescente. “Escolhi ser a melhor presença possível de um pai, mesmo sem saber ao certo como ser às vezes”, conta.

O caminhar da vida foi trazendo os aprendizados. Hoje, Josemar é pai da Ana Carolina, 17 anos, e da Sofia, 5 anos. Uma jovem e uma criança.

Josemar e a companheira Simone com as filhas Ana (D) e Sofia (C). Foto Arquivo Pessoal

“No momento estou aprendendo a me equilibrar como adulto que brinca com uma criança e também a apoiar e respeitar a adolescente que aos poucos cresce e tem suas próprias escolhas e desafios”, reforça.

A paternidade e família foi uma motivação para querer se observar mais, querer estar mais presente, especialmente pela responsabilidade de cuidar do bem-estar de outro ser. Para ele, a Ana e a Sofia o fazem uma pessoa melhor.

Equilíbrio nos papéis

Jean Jung percebe que antigamente existia uma figura paterna que não assumia muitas responsabilidades da casa e da educação dos filhos, agora a mudança que tem trazido mais equilíbrio para as famílias.

Jean acredita que pais devem assumir igualmente as responsabilidades. Foto: Arquivo Pessoal

Isso acontece para quem divide o mesmo teto ou não. No caso, do Osmar, que já assumia as funções e cuidados antes da separação, foi natural buscar uma rotina que continuasse assim.

Assim, as filhas Laís e Paula ficam uma semana na casa do pai, uma na casa da mãe – justamente na busca de relações mais harmoniosas e verdadeiras.

Essa igualdade entre homens e mulheres, pais e filhos, acredita Josemar, pode ser o início de muitas transformações na própria sociedade. É preciso dividir tudo, ônus e bônus.

“Precisamos aprender muito com as mulheres, precisamos de pais presentes, de masculinos conscientes do seu papel e que respeitem as mulheres e que acolham seus filhos.

Pai consciente

No caminho de orientar uma criança para o futuro, para Josemar é importante, em primeiro lugar o contato consigo mesmo, ter clareza de quem se é e das responsabilidades, com leveza e amor.

“Antes de sermos qualquer coisa, precisamos ser humanos conscientes, ter e ser amor para entregar amor, pra educar, para nutrir o outro”, pontua.

Autoconhecimento é fundamental para as relações em família, define Josemar. Foto Arquivo Pessoal

Jean define a paternidade como presença, acompanhar o desenvolvimento e a educação. Mas o mais importante é o diálogo e o amor.

Essa abertura para a troca, ouvir a criança e entender suas ações é ressaltada por Osmar. Discutir ações certas e erradas, paciência.

“Não estou dizendo que é tarefa fácil ser paciente todas as vezes, mas tomar qualquer atitude enquanto está sob o sentimento de raiva é muito pior, e as consequências dessa atitude podem ser marcantes na vida do menor”, reflete.

Bruno completa reforçando que um pai consciente entende que um filho é muito mais do que uma responsabilidade.

Bruno e o filho João Victor. Foto Arquivo Pessoal

“É o material genético do pai com o material genético da mãe que se multiplica, cresce, desenvolve, nasce, cria personalidade e segue o teu legado. Isso é o milagre da vida e receber um milagre desses é um presente”, define.

 

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Natália Trentini

Jornalista em busca de histórias e fatos de impacto positivo para a comunidade.