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Afrotech une tecnologia e consciência racial nas escolas municipais de Florianópolis

Professor Josué de Oliveira Pinheiro participando do projeto Afrotech com os estudantes do EBM Almirante Carvalhal | Foto: Divulgação/PMF

Por: Ewaldo Willerding Neto

07/11/2025 - 07:11

Aliando uma forma moderna de ir ao encontro da nova geração com estudos históricos, o Gamer Quiz Afrotech proporciona educação antirracista com apoio de recursos digitais. A atividade mergulha os estudantes da rede municipal de Florianópolis em um quiz digital e interativo, com questões que desenvolvem o senso crítico e a imersão nas tradições indígenas, afro-brasileiras e africanas.

A proposta foi criada pelos professores de tecnologia para ser usada nas escolas Almirante Carvalhal (Coqueiros), Batista Pereira (Ribeirão da Ilha), Professora Neuza Paula da Silveira (Ingleses), Adotiva Liberato Valentim (Costeira do Pirajubaé) e a Albertina Madalena Dias (Vargem Grande).

Com uma abordagem inovadora, o Afrotech se apoia em metodologias ativas, entre elas, a gamificação, que é o uso de elementos de jogos em atividades que não são naturalmente jogáveis, para torná-las mais motivadoras, interativas e atrativas. E também faz uso de Design Thinking Educacional, metodologia que auxilia um grupo a pensar, criar e testar soluções de forma colaborativa, com o objetivo de colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem.

A partir do jogo, os participantes são estimulados a refletir sobre os impactos do racismo na sociedade, a valorizar as contribuições históricas dos povos originários, e a utilizar a internet de maneira ética e criativa. De acordo com o professor Josué de Oliveira Pinheiro Filho, a experiência tem mostrado resultados muito positivos.

“Os jovens demonstram maior interesse pelos conteúdos sobre diversidade, passam a refletir sobre a sociedade de forma mais consciente e revelam mudanças de postura nas relações cotidianas — tornando-se mais respeitosos, empáticos e engajados nas discussões sobre igualdade e representatividade”, comentou.

O projeto trabalha conteúdos culturais e históricos por meio da gamificação| Foto: Divulgação/PMF

O jogo educativo funciona por meio de perguntas, imagens e desafios: a dinâmica convida as turmas a descobrirem contribuições históricas, científicas, artísticas e culturais desses povos, valorizando saberes ancestrais e reforçando o sentimento de pertencimento e respeito. A atividade é realizada em escolas com salas informatizadas, o que permite aos participantes vivenciarem, em grupo, experiências que unem o uso de ferramentas digitais.

Atividades de acordo com necessidades pedagógicas

O Afrotech foi idealizado pelo professor Josué de Oliveira Pinheiro Filho, que é especialista em Mídias no Ambiente Escolar e professor de tecnologia educacional no EBM Almirante Carvalhal, com a disciplina Letramento digital. Como parceiras, Josué conta com as professoras Nali Catarina Pedroso Nunes, Michelle Carvalho Dias Borges, Viviane Lima Ferreira e Elika Silva. Hoje, o projeto contempla a área de Tecnologia Educacional dentro do Programa de Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER) da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis.

Desenvolvido na plataforma Wayground (antes conhecida como Quizizz) — um ambiente de aprendizagem que permite criar quizzes interativos com diferentes mídias e acompanhar o desempenho dos estudantes — o recurso possibilita que os professores, figuras essenciais no projeto, personalizem questões e adaptem as atividades conforme as necessidades pedagógicas.

O cronograma de atividades inclui desde o planejamento e criação das perguntas, até a implementação piloto e torneios entre turmas, com medalhas simbólicas visando engajar o aprendizado. Após as etapas, os estudantes e professores participam de momentos de reflexão e socialização, discutindo o que aprenderam e como a atividade interativa contribuiu para ampliar a compreensão sobre a importância da igualdade racial.

Estudantes como protagonistas da aprendizagem

O jogo propõe perguntas e desafios | Foto: Divulgação/PMF

A iniciativa surge a fim de atender ao que determinam as Leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino das identidades afro-brasileira, africana e indígena nas escolas, e dialoga diretamente com os princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

“Percebi que, embora os jovens da rede sejam familiarizados com ambientes virtuais, muitas vezes esses instrumentos não são usados como meio de reflexão social e crítica. Assim, a plataforma nasceu como uma proposta coletiva, construída com a colaboração de professores comprometidos com a educação antirracista “, disse Josué de Oliveira.

Para os idealizadores, ao integrar ferramentas digitais a temas como diversidade e respeito, os participantes deixam de ser apenas receptores de informações e passam a atuar como protagonistas da aprendizagem. E mais do que cumprir uma exigência legal, a ação busca formar cidadãos críticos, empáticos e conscientes, capazes de reconhecer o valor das múltiplas identidades que compõem o Brasil.

“A proposta rompe com a ideia de que tecnologia é apenas entretenimento. Aqui, ela se torna instrumento de transformação social e de valorização da diversidade”, destaca Nali Pedroso, professora de Tecnologia Educacional da EBM Professora Neuza Paula da Silveira.

O recurso permite que os professores personalizem questões e adaptem as atividades às necessidades pedagógicas | Foto: Divulgação/PMF

Rompendo barreiras

O objetivo é que o Afrotech se consolide como um projeto fixo e contínuo dentro da área de Tecnologia Educacional, articulando-se com as ações da ERER. No entanto, o jogo também pode ser utilizado em momentos especiais, como interclasses, semanas da consciência negra, feiras culturais ou mostras de tecnologia, ampliando o alcance das discussões e o envolvimento de toda a comunidade escolar.

A meta do Afrotech é contemplar todos os anos de ensino, entretanto, a dinâmica é uma atividade exclusiva das turmas fixas dos professores envolvidos, que são os anos iniciais, do 1° ao 5°. “O ideal é que ele se torne uma ferramenta permanente de aprendizagem e transformação social no currículo. Todas as professoras que colaboraram com o jogo têm o domínio e podem trabalhar na sala informatizada, mas ainda estamos trabalhando para conseguir outras turmas”, comentou Josué.

O projeto visa destacar a importância da pluralidade cultural na formação da identidade brasileira. Entre os resultados esperados pelos responsáveis estão o fortalecimento da prática escolar antirracista, o desenvolvimento do pensamento crítico e da empatia, e a ampliação do uso das plataformas digitais como ferramenta educativa.

O Gamer Quiz Afrotech integra as ações da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis no Mês da Consciência Negra, reforçando o compromisso da rede municipal com uma educação pública democrática, inclusiva e comprometida com o respeito à diversidade étnico-racial.

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Ewaldo Willerding Neto

Jornalista formado pela UFSC com 30 anos de atuação.