A última eleição presidencial do Brasil foi marcada por fortes embates em torno dos “defensores da democracia”. Em meio a disputa por votos, os então opositores, soldados da esquerda, ditos “paladinos da liberdade de imprensa”, acusavam a direita de implantar a chamada “guerra de narrativas” e incitavam a Suprema Corte brasileira a coibir tudo o que lhes fosse contrário. Não faltaram acusações de manipulação de informações. Mas nada como o tempo.
Passado menos de um ano da posse do governo de Lula da Silva, já começa a aparecer a verdadeira face de quem antes dizia defender a liberdade. O caso mais evidente, e recente, foi a divulgação, pelo jornal O Estado de São Paulo, da presença de Luciane Barbosa Farias, esposa do líder do Comando Vermelho do Amazonas, no Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. Ela teria sido recebida pelos assessores do ministro Flávio Dino para tratar de melhorias para criminosos no sistema penitenciário.
O simples exercício da prática jornalística foi suficiente para que os líderes petistas urrassem contra o tradicional Estadão. A presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, divulgou: “Gravíssima denúncia feita ao MPT (Ministério Público do Trabalho) sobre a fabricação do ‘escândalo da dama do tráfico’ pelo Estadão para fazer parecer que (o ministro da Justiça) Flávio Dino é simpático ao crime organizado”.
O que o jornal fez foi apenas realizar o seu trabalho. Publicou um fato verídico. Tanto que o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, assumiu como seu o “erro” e a própria pasta anunciou mudança nas normas de acesso ao prédio do ministério, exigindo maior controle na entrada.
A resposta do Estadão foi a publicação do editorial “A ‘democracia’ do PT é com aspas”. No texto, o tradicional jornal paulista dispara: “Não durou muito a farsa segundo a qual Lula da Silva precisava ser eleito para, segundo suas palavras, ‘recuperar a democracia neste país’. Bastou que a imprensa começasse a publicar notícias desfavoráveis ao governo para que esses campeões da democracia voltassem a ser o que sempre foram: a vanguarda da truculência. Para a seita petista, vale tudo, até mentir e distorcer, para desmoralizar aqueles que ousam revelar os malfeitos do governo de Lula”. E completou: “Esse é o padrão de atuação dos petistas. Para eles, nem é preciso que a informação seja verdadeira para que seja usada em favor de seus propósitos autoritários (…) O jornal fez apenas o seu trabalho: trouxe fatos relevantes ao conhecimento do leitor”.
A pergunta que fica é: Afinal, quem defende a democracia e a liberdade de imprensa? A quem interessa impedir a divulgação de fatos contrários ao governo e ao pétreo exercício do jornalismo? Só vale o que lhe for agradável? Decididamente não é assim que se convive com o contraditório.