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Zema, Dino e o show de hipocrisia da esquerda – Deltan Dallagnol

Foto: Divulgação

Por: Deltan Dallagnol

09/08/2023 - 07:08

No último sábado (5), o governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) anunciou, em entrevista ao Estadão, uma frente formada por estados do Sul e do Sudeste para contrapor o protagonismo político de estados do Nordeste. Seria uma entrevista como qualquer outra, mas uma distorção na manchete do Estadão, que inicialmente divulgou a iniciativa de Zema como algo “contra” os nordestinos, gerou polêmica, controvérsias e histeria nas redes sociais e na imprensa, além de uma série de ataques injustos (e hipócritas) ao governador mineiro.

No show de hipocrisia da esquerda, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, é a maior estrela. No Twitter, o ministro acusou Zema de ser de “extrema-direita”, disse ser absurdo que se fomentem divisões regionais, conclamou a união do Brasil e avisou: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria”, citando Ulysses Guimarães. No fim do dia, durante transmissão oficial do Ministério da Justiça, Dino voltou à carga contra Zema e acusou: “É um homem que quer separar um pedaço do Brasil. Nós não queremos não. Nós queremos o Brasil unido”.

De uma só tacada, Flávio Dino não só espalhou fake news (em outras palavras, mentiu) como atacou as instituições democráticas do Brasil, o que, em tempos atuais, a se manter a coerência no STF, deveria no mínimo render a Dino uma abertura de inquérito de ofício por parte do ministro Alexandre de Moraes, para evitar qualquer risco à nossa “democracia”. Até agora, não tivemos notícias do ministro Alexandre, mas vamos esperar pelo menos 48 horas.

Enquanto aguardamos, vale analisar a conduta de Dino em todo esse imbróglio. Em primeiro lugar, salta aos olhos que em nenhum momento da entrevista Zema defendeu a separação de estados ou regiões do Brasil. Qualquer um com olhos e habilidades básicas de leitura e interpretação de texto pode constatar isso. Como é algo muito fácil de verificar, fica claro que Flávio Dino mentiu, de má-fé mesmo, sabendo que estava espalhando uma inverdade, uma desinformação.

Em segundo lugar, a fake news de Flávio Dino é um ataque direto às instituições democráticas, porque Zema é uma autoridade pública da mesma forma que Dino é. Zema é um governador reeleito, em pleno exercício do cargo, que representa um dos maiores estados e uma das maiores economias do país. Pior do que isso, fez uma acusação grave a Zema de separatismo que jamais existiu, utilizando uma transmissão oficial do governo para isso.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelo TSE e ficou inelegível por oito anos justamente por ter feito uma reunião com embaixadores em que atacou o sistema eleitoral do país, transmitida pelos canais oficiais do governo. Dino, ao fazer a mesma coisa, também será punido da mesma forma? Haverá pedidos de investigação contra o ministro? O Ministério Público junto ao TCU vai entrar com representação contra ele? Duvido muito.

Mas para além da mentira e do ataque à democracia, o pior pecado mesmo de Dino foi a hipocrisia. É aquele que, no inferno descrito por Dante Alighieri na Divina Comédia, é punido nos lugares mais distantes do inferno, na sexta cova do oitavo círculo. Essa é a mesma punição, aliás, que Dante reserva aos corruptos em seu poema épico. Lá, então, não faltarão companheiros para confraternizar com Dino. Mas voltando ao pecado de Dino: a hipocrisia do ministro ficou escancarada em seus ataques a Zema porque acusou o governador mineiro de algo que ele mesmo fez.

É que, em março de 2019, logo no início do governo Bolsonaro, Flávio Dino, que na época era governador do Maranhão, uniu-se aos demais governadores nordestinos para fundar o Consórcio Nordeste, justamente para se protegerem politicamente de futuros “boicotes” que poderiam sofrer do governo Bolsonaro. Flávio Dino só pode ter se esquecido disto, tenho certeza, ou então não teria atacado Zema por fazer exatamente o que ele mesmo fez. Se ele não esqueceu, a única alternativa que sobra é que Dino foi mesmo hipócrita – e de hipocrisia a esquerda e o governo entendem bem.

Estavam lá de braços dados com Dino, em 2019, o então governador do Ceará Camilo Santana, hoje ministro do Desenvolvimento Social de Lula. Seria ele um traidor da pátria, como Dino chamou Zema? Estava lá também com Dino o então governador da Bahia, Rui Costa, hoje ministro da Casa Civil de Lula. Seria ele também um traidor da pátria? É no mínimo estranho que Dino, Ministro da Justiça do Brasil, esteja rodeado de tantos traidores da pátria.

Ou talvez seja apenas hipocrisia mesmo.

 

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