Yo Soy Argentino

Por: OCP News Jaraguá do Sul

13/05/2016 - 04:05

Nós, brasileiros adoramos falar e ouvir de Buenos Aires, cidade cuja urbanização nos parece tanto com as metrópoles europeias. Suas avenidas largas, espaços públicos, tantas livrarias quanto o Brasil inteiro – sendo os argentinos, com média europeia, quando se fala em quantidade de livros lidos por habitante. Sete ao ano. Seus cafés debaixo de árvores centenárias, e onde come-se chorizo, – um enchido com carnes e temperos, bebe-se vinho malbec e tenta-se alguns passos de tango. Já teve mais em conta viajar para a capital portenha. Atualmente, os custos aumentaram. Buenos Aires costuma ser o destino de estreia de quem nunca foi para o exterior, como era o Paraguai anos atrás. Admiramos a ausência de analfabetismo argentino. Porém, nas províncias que fazem fronteira com o Paraguai e Bolívia, os índices são iguais a cidades do interior do Piauí e Maranhão.

Recentemente estive na província de Missiones, que faz fronteira com o Paraguai e Brasil e é fácil fazer essa comparação com as partes mais pobres do Brasil; isolados casebres de paredes de barro e com telhados feitos com folhas de zinco, bêbados sentados na beira da estrada a olhar para o nada, crianças descalças entre animais domésticos, soltos.

Admiramos também a coragem dos panelaços. Lá, para fazer essas passeatas, existem empresas especializadas. Na província de Missiones havia uma greve de caminhoneiros que transportam erva mate bloqueando uma estrada. Não sedemos nada em nossa preferência por Pelé, mas admiramos o futebol de Maradona e seus herdeiros, como Messi cara de tonto. E eles, argentinos, também gostam muito dos brasileiros, do futebol de Pelé e Zico, da paisagem do Rio de Janeiro, da capoeira de Salvador, para não falar das praias do nosso Estado e da nossa MPB. Viajantes e aventureiros natos, encontra-se argentinos de passagem ou vivendo em lugares e cantos dos mais inusitados. De ermitões que vagam pelas cavernas da Capadócia, na Turquia, a sadhus – homens sagrados na Índia. Recordando a América do Sul, todos me pediram para cantarolar algum trecho de Garota de Ipanema ou Aquarela, de Toquinho – quantos de nós, brasileiros, sabemos da importância dessas canções na música popular brasileira? Os argentinos sabem. Qualquer assunto que se discuta com eles, há algo que existe, ou existiu na Argentina melhor que em outro lugar do mundo. Isso se não insistirem na sua citação como ponto de referência ao assunto debatido.

Eles têm orgulho do unipresente doce de leite. Contam a história de como tudo começou, com muitos detalhes. Mas os livros da história dizem que na América do Sul o doce de leite é chileno. Do tango, que idolatram, também há estudiosos dizendo que a dança começou no Uruguai, do outro lado do Rio da Prata, o rio que atravessa a província de Buenos Aires e divide parte do Uruguai com a Argentina.

Como os franceses, os argentinos adoram livros sobre sua nação, livros com títulos loucos como “A Santa Loucura dos Argentinos” ou “O Atroz Encanto de Ser Argentino”. Brasileiros e argentinos são passionais, cada um no seu estilo. O argentino é exigente demais, briguento, senão neurótico; o brasileiro prefere sempre o consenso, por mais fracos os critérios em que se dá. O argentino se acha europeu; o brasileiro lamenta não ser. Se num país o complexo de superioridade descamba em autocrítica melancólica, no outro o sentimento de inferioridade está sempre pronto à auto-exaltação.