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Verdades simples – Luiz Carlos Prates

Por: Luiz Carlos Prates

01/04/2023 - 05:04 - Atualizada em: 31/03/2023 - 11:03

Nunca vou esquecer. Eu era calouro de Psicologia na Pontifícia Universidade Católica, PUC/RS, estava no primeiro ano do curso quando houve um grande encontro de psicólogos e psicanalistas no salão de eventos da universidade. Estava esfregando as mãos para ouvir os “doutores”.

Foi quando um veterano, do segundo ano, me fez uma observação que me abafou o ânimo. Ele me disse – “Prates, te prepares, tu não vais entender quase nada do que os caras vão falar, eles usam de uma linguagem cheia de termos técnicos, não as traduzem, empolam-se e querem passar uma ideia de que são os tais, os freuds modernos…”.

Nunca esqueci, e até hoje ouço esse tipo de gente, os inseguros… Aliás, vale para advogados e médicos, os que se empolam, que usam de vocabulário essencialmente “técnico”, termos do tempo da Inquisição… Inseguros.

Será que não sabem que as verdades mais simples, e mesmo as mais complicadas do ponto de vista técnico, podem ser ditas de modo a que todos, todos, sem exceção, as entendam?

Aliás, quando fui repórter da Voz da América (Voice of America) emissora oficial do governo americano, entrei em contato com um noticiário mundial de meia hora que se que alicerçava sobre o “Special English”, esse noticiário especial traz todas as notícias do dia, todas, em não mais que mil diferentes palavras.

Fica claro que com 1000 – mil – palavras se pode dizer de tudo. Prova de que com habilidade é possível fluência e objetividade mesmo com vocabulário reduzido. Todavia, um “doutor” em psicologia, um tratadista da mente, vai usar da “vulgaridade” do – Só vais colher o que semeastes! Jamais, isso é “vulgaridade” para o inseguro.

Eles enrolam a língua falando em neurotransmissores, sinapses, ocitocina, serotonina, fisiologia do cérebro, como se tudo não pudesse ser dito de modo direto – Assim como pensas, assim serás. Simples, o mais é enrolação.

Vale para tudo. Não estudou? Não passa. Não faz bom trabalho? Rua. Não respeita a mulher? Divórcio. Não puxa as rédeas da disciplina severa na educação dos filhos? Encrencas e delegacias mais tarde. Não poupa hoje?

Vai estender e ficar com a mão no ar no futuro. Psicologias baratas, mas… são as que funcionam. No mais são psicologias e medicinas embusteiras, onde o arrogar-se e ter lucros é o que conta…

SAUDADE

Deixei a cabeça dele cheia de minhocas. Um amigo me contou que ganhou um cachorro. O doador tinha cinco cachorros. E eu perguntei ao ganhador como ele ia tratar da saudade que esse cachorro ia sentir, separado dos outros com os quais até então vivera? O amigo se surpreendeu. Sim, os bichos sentem saudade dos outros com os quais conviviam. E sempre há um mais amigo ainda. Os bichos não diferem de nós. E um latido pode ser saudade…

CABELOS

Leio as obras da psicoterapeuta e jornalista americana Lori Gottlieb. No livro “Talvez Você Deva Conversar Com Alguém”, ela conta das conversas dela com o seu cabeleireiro. E ouve dele histórias fantásticas de mulheres que enquanto estão ali, arrumando os cabelos, os transformam num ouvinte psicoterápico. Nenhuma novidade, muitos fazemos isso com cabeleireiros e barbeiros pela doentia necessidade que temos de desabafar, ser ouvidos.

FALTA DIZER

Ah, os tempos, mudam as maneiras, mas não as essências. Lendo uma crônica do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, ele conta de uma nota de jornal que falava de uma mulher que fora a uma delegacia no Rio queixar-se do marido que a havia surrado com um “vaso noturno”. Um “pinico”, enfim. Os tempos mudam, mas… Os broxas continuam iguais.

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Luiz Carlos Prates

Jornalista e psicólogo, palestrante há mais de 30 anos. Opina sobre assuntos polêmicos.