♫ “Generals gathered in their masses/ Just like witches at black masses/ Evil minds that plot destruction/ Sorcerers of death’s construction/ In the fields, the bodies burning/ As the war machine keeps turning/ Death and hatred to mankind/ Poisoning their brainwashed minds”♫ (War pigs; Black Sabbath)
Há muitos anos – uns 20 anos, talvez – me deparei com um livro dentro de outro livro. Na época eu estava lendo muitos romances policiais de autores brasileiros e o autor que mais impressionava era Rubem Fonseca, que morreu em 2020, aos quase noventa e cinco anos.
Eu gostava, ainda gosto, mas tenho lido pouco ultimamente romances policiais, do estilo do Rubem Fonseca, de suas reflexões, de suas críticas e dos enredos em si.
Esse livro a que me refiro, de 1988, é Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. E nessa história aparecia, como uma espécie de fio condutor paralelo, o livro A cavalaria vermelha, de Isaac Babel.
O Exército de Cavalaria
O livro de contos originalmente chamava-se A cavalaria vermelha, mas há traduções com o título O Exército de cavalaria, e foi publicado em 1926. O autor foi soldado na Guerra Civil Russa, mas essa obra está voltada a sua experiência como soldado e correspondente de jornal na Guerra Russo-polonesa (ou polaco-soviética) ocorrida entre 1919 e 1921.
Pela curiosidade plantada em mim, fui atrás desse Babel. Poucos anos depois de ter lido o livro de Fonseca, comprei O Exército. Uma linda edição da editora Cosac Naify, de capa dura, incomparável com as últimas que vi por aí.
O autor realmente merece estar no panteão dos melhores escritores russos do século XX, e esse livro é considerado um dos maiores sobre guerra. Babel influenciou inúmeros escritores famosos.
Esse livro é ao mesmo tempo poético, seco e brutal.
Guerras não são belas
A qualidade dessa obra é tão grande (e de seus tradutores para a versão brasileira também) que episódios insanamente brutais conseguem ser descritos de forma absolutamente poética, fazendo que a reflexão sobre tudo não seja só uma consequência, mas inevitavelmente obrigatória.
Terminei de ler esse livro essa semana, e agora entendo o dilema e o drama do personagem principal da obra de Rubem Fonseca, um cineasta que abandonou a carreira. Por melhor que fosse o filme, as telas nunca transmitiriam o impacto cruel e doce das letras de Babel.
Mas não nos enganemos. Guerras não são belas. São imundas, são infames, são fazedoras de órfãos e criadoras de ódio. São o que de pior existe na humanidade. São os palcos das maiores atrocidades desde que o mundo é mundo.
A diferença agora é a tecnologia. E a internet, que nos faz ver em tempo real, ou praticamente real, crianças sofrendo, morrendo de fome, perdendo seus pais e irmãos e famílias inteiras, enquanto os senhores da guerra, encastelados, ficam vociferando suas verdades unilaterais do alto de suas poltronas caras e confortáveis com o objetivo, acima das mentiras que contam, de se manterem no poder. E só! Sem preocupação com a morte e dor dos inocentes, sem consciência, sem humanidade.