Laryssa Tarachucky – Pesquisadora e Coordenadora do LabIC Novale
Nos últimos anos, o conceito de cidades circulares vem sendo discutido por pesquisadores do mundo todo como uma abordagem possível para transpor os desafios do desenvolvimento urbano sustentável. Na sua essência, o conceito de cidades circulares gira em torno da criação de sistemas que minimizem o desperdício e maximizem a eficiência dos recursos, fechando o ciclo dos fluxos de materiais localmente.
Essa abordagem de pensamento e gestão dos recursos urbanos é particularmente importante quando consideramos a necessidade urgente de respostas para a crise ambiental.
Nas cidades circulares, a cultura do reparo desempenha um papel central. A cultura do reparo diz respeito a um movimento que busca transformar nossa lógica de consumo em uma na qual consertamos mais do que compramos.
Em vez de verem os produtos como bens descartáveis, as pessoas são incentivadas a prolongar sua vida útil, reparando e reaproveitando seus objetos (ou, ao menos, parte deles) sempre que possível. Ao incentivar projetos e movimentos em torno do reparo, as cidades circulares podem aproximar-se mais rapidamente de um modelo sustentável de desenvolvimento urbano.
Vemos surgir uma série de iniciativas preocupadas com a promoção da cultura do reparo pelo mundo. O The Restart Project, por exemplo, ajuda pessoas a aprender como consertar seus próprios dispositivos eletrônicos, promovendo campanhas e festivais de reparo pelo Reino Unido.
Por sua vez, o iFixit advoga pelo direito ao reparo e ajuda pessoas a reparar seus objetos oferecendo manuais e tutoriais gratuitos. A rede Repair Café, iniciada pela holandesa Martine Postma em 2009, já conta com mais de 2500 iniciativas em todo o mundo.
A cultura de reparo representa um caminho para o envolvimento ativo dos cidadãos em atividades concretas, capazes de iniciar transformações mais profundas nas cidades. A um nível mais fundamental, trata-se de cultivar o bem-estar dos indivíduos, das comunidades e do ambiente natural por meio da mudança das nossas relações com os objetos que consumimos.
No dia 4 de abril, o LabIC Novale dará início a um diálogo sobre esse assunto. O tema do primeiro ciclo das Desconferências Urbanas 2024 é também um convite: Vamos falar sobre reparo? Além da conversa sobre o papel do reparo na construção de cidades circulares, exploraremos maneiras de integrar esses princípios em nossas comunidades.
Isso significa que o encontro também funcionará como um momento mão-na-massa, no qual trataremos das peças, das partes e da lógica de funcionamento de um objeto que muitos têm em casa: o teclado. Convidamos você a trazer seus itens quebrados e juntar-se a nós. Se você não tiver nada para reparar, pode aprender algo novo, auxiliar no trabalho de reparo de outra pessoa ou até mesmo contribuir com peças de objetos inutilizados.
Texto escrito em colaboração com Trober Jaime Machado.
Patrocínio: