Sempre que caminho pelas ruas, no bairro onde moro, ou pelas vias centrais, inevitavelmente encontro cachorros perambulando cabisbaixos, geralmente magros e com olhar opaco, combalidos pela fome, sede e pela saúde abalada. Alguns andam com dificuldade, com uma das patas sem pisar no chão, claro indício de quem levou uma pedrada, ou se machucou. Nos dias de calor, buscam uma sombra; no frio, um abrigo ou um espaço ondem possam se aquecer, ou pelo menos aplacar um pouco as baixas temperaturas. Nas viagens que tenho feito em ônibus intermunicipais, não raro encontro cães magérrimos e com olhar suplicante, à espera de migalhas para enganar o estômago. Não importa a cidade, se você olhar nos olhos desses animais, vai ver que transmitem uma profunda tristeza. Situação semelhante acontece com os gatos. Assustados, ariscos, agressivos, muitas vezes, prontos para se defenderem de ataques, geralmente covardes, dos humanos que dominam o pedaço. Mas também, em muitos casos, carentes e surpreendentemente afetuosos e agradecidos quando salvos de situações de risco, de acidentes, ou maus tratos. E por falar em maus tratos e abandono, você já reparou quantos animais até então chamados “de estimação”, são irresponsavelmente jogados na rua nos meses em que os donos saem de férias? Atordoados, ficam querendo atravessar a rua, de lá para cá, e inevitavelmente são atropelados, mutilados e mortos pelos sempre apressados motoristas ? Isso sem falar nos que trancafiam os animais dentro dos imóveis, presos por correntes, sem água ou comida, sujeitos a morrerem de sede, fome, desidratação ou frio. O setor de Zoonozes está aí para comprovar essas práticas vergonhosas, e também para realizar castrações em cães e gatos abrigados por famílias comprovadamente de baixa renda. Há também os que literalmente “jogam fora”, como se fossem lixo, os animais quando se tornam velhos e doentes, sem se importarem com o sofrimento físico e emocional que causam a eles. Se muitos fazem exatamente igual com os familiares quando envelhecem, imaginem com os seres de quatro patas! É claro que muita gente, ao ler esse texto, deve estar pensando que tudo isso não passa de um discurso piegas. Se preocupar com os animais? Por quê? Tem ainda a frase típica: “é um absurdo se preocupar com a saúde dos animais quando faltam recursos e infraestrutura para os hospitais...” Sim, faltam recursos e infraestrutura na maioria dos municípios brasileiros, na área da saúde! Mas isso não invalida a legislação que determina a adoção responsável, criminaliza o abandono e os maus tratos praticados pelos tutores, que podem levar à morte dos animais. Dia 18 tem audiência pública na Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul que reunirá todas as instituições envolvidas, inclusive as organizações não governamentais, para buscar uma solução. “É um problema de saúde pública”, dirão os técnicos. Pois digo que, além disso, é um problema comportamental da comunidade. Sempre ouvi dizer que quem não gosta de animais também não gosta do ser humano...