Não tem jeito. Eu tentei falar de outro assunto. Comentar mais alguma coisa dos novos (velhos e mesmos) escândalos políticos, falar do “terremoto” do Garibaldi, do Pixuleco que surgiu na ponte de Blumenau. Mas, não dá. Estou prestes a embarcar num avião e só consigo pensar nisso.
A coisa começa dias antes. Todo tempo livre que acho preencho vendo vídeos de engenharia de aeronaves, desastres famosos, estatísticas, reportagens, a lista das principais causas de acidentes aéreos, ranking de companhias mais e menos seguras, enfim, tudo (de bom e de ruim) de estar num avião. Seja para um voo internacional, de treze horas, com um piloto e um avião que pousa suave como a mão de uma mãe que toca a pele de seu filho pela primeira vez, ou para um voo de quarenta e cinco minutos, Airbus, Joinville-São Paulo, primeira ponte aérea do piloto, que pousa igual um cabrito pulando nas montanhas rochosas de um deserto qualquer.
Daí sempre vem aquele: “pra quê?” “bobeira!”. Pra mim, não é bobeira. Faço isso justamente para me tranquilizar. Exemplo: Sempre que os comissários dizem: “Todos os aparelhos celulares devem ser desligados, mesmos os que possuem modo avião”. Eu já começo a olhar ao redor. Sempre tem a “coisinha” que precisa fazer selfie no avião. Que acha ridículo ficar sem o whats. Que acha um absurdo ter que abrir páginas de uma revista (cortesia da companhia, porque ela nunca levaria uma revista). E continua lá… Com o dito celular.
Primeiro eu pensava: Pronto, vamos todos morrer por causa dessa (ou desse, não é só mulher, não. Falei dessa, pois a última foi mulher. Ok, feministas de plantão?) infeliz. Depois pensava: Eu vou levantar e arrancar o telefone da mão. Por fim, pensava: Vou chamar a aeromoça. O que eu fazia? Nada. Torcia: “Desliga, desliga”. É que eu tenho muita vergonha. Não ia ter coragem de falar nada… Mas agora, lendo uma matéria sobre isso, descobri que avião não cai por causa de celular. O máximo que pode acontecer é congestionar as linhas telefônicas das companhias telefônicas, caso as aeronaves não tenham roteadores instalados. Ou seja, quando seu celular não completa chamada, talvez haja um avião sobrevoando por perto com alguém fazendo selfie.
Claro que eu gosto de dar uma alfinetada em quem diz “besteira”. E pergunto: “Você sabe o que fazer em caso de despressurização?” “Colocar a máscara.” “É? Mas e se a máscara demorar a cair? Você sabia que despressurização é o pior tipo de sufocamento que existe? Mais que afogamento, inalação de fumaça ou qualquer outra coisa? Uma despressurização aguda pode apagar uma pessoa em quinze segundos”. Sinceramente, se algum dia caírem as máscaras, eu morro na hora.
Veja só! No governo também estão torcendo para que as máscaras não caiam. E lá um avião também está caindo. Um Air France 447 chamado Brasil, onde há paraquedas para a primeira classe, enquanto a econômica assiste, com cara de trouxa, tipo o Eri Johnson vendo a esposa com o padre Fábio de Melo.