17/06/2023 - 07:06
Tripé da vergonha – Claudio Prisco Paraíso
Definitivamente, o brasileiro não tem como se dar por satisfeito com os representantes dos três poderes. No Executivo, o atual inquilino do Planalto já se prepara para mais uma viagem internacional. Será na semana que vem. O destino? Roma. O descondenado irá ao Vaticano tomar as bênçãos do Papa Francisco. Depois, um pulinho em Paris. Afinal, ninguém é de ferro.
Agendas “oficiais” na Capital francesa não costumam fazer mal a ninguém. Na terra de Voltaire, o petista será recebido pelo presidente Emmanuel Macron, que é um adversário tradicional do Brasil. O francês, no entanto, será cortejado pelo presidente que saiu das urnas nacionais.
Com essa viagem, considerando-se que estamos nos aproximando do fim do primeiro semestre, o ex-mito vai contabilizar 30 dias no exterior. Cinco no país e outro se entretendo mundo afora, não raro com gigantescas, desnecessárias e dispendiosas comitivas.
Tudo evidentemente bancado com o seu, o meu, o nosso.
Cargo dos sonhos
O vice Geraldo Alckmin não tem do que reclamar até aqui. Nesse ritmo, considerando-se que o mandato presidencial é composto por oito semestres e projetando que o atual chefe do Executivo chegará até o final de 2026, o ex-tucano teria oito meses no exercício da Presidência. Dos 48, oito seriam com o vice.
Nada a declarar
Vamos agora para o segundo poder. Na quarta à noite, um espetáculo vergonho, jocoso, na Câmara dos Deputados. Ali, resolveram aprovar um projeto para blindar políticos bichados.
Cala a boca
Políticos e altos funcionários públicos, que são mantidos com fartas verbas coletas dos impostos, não poderão, se a proposta virar lei efetivamente, mais ser homenageados pelo brasileiro nas ruas. Ninguém mais poderá ser chamado de ladrão ou de corrupto, mesmo o sendo. Sob pena de o pagador de impostos, além de ter que pagar uma multa estará sujeito a pegar de dois a quatro anos de prisão. Típica medida de pseudo republiquetas autoritárias, onde a tal democracia é apenas um sonho distante.
Regra de ouro
Por aqui, será assim em pouquíssimo tempo: o povo que trabalhe, pague os impostos e cale a boca porque os políticos e alguns membros do Judiciário serão realmente supremos e inatingíveis.
Envergadura
O tal projeto não valerá somente para deputados. Alcançará prefeitos, governadores, o presidente, procuradores e, claro, ministros dos tribunais superiores. Uma verdadeira festa antidemocrática.
De costas à sociedade
Voltemos ao Parlamento federal. Deputados e senadores estão lá para legislarem em favor da sociedade e ficam aprovando projetos para protegê-los diante de possíveis comportamentos nada republicanos ou inadequados. Já prenderam e estão condenando pessoas comuns que estavam em frente aos quarteis. A ditadura avança a passos céleres sob aplausos e olhares incrédulos.
Trocando em miúdos
Ou seja, se roubarem não poderão ser chamados de larápios nas ruas o que certamente será um reforço, ainda, ao patrulhamento que já existe nas redes sociais. Vejam só a que ponto chegamos neste país, na cleptorepública associada ao narcoestado em que se transformou o Brasil.
Grande líder
O “espetáculo” na Câmara foi pilotado pelo poderoso e impoluto Artur Lira, que ignorou as comissões. Levaram a matéria direto ao Plenário, onde aprovaram o regime de urgência e dá-lhe votação goela-abaixo. A vergonheira foi aprovada com mais de 250 votos entre 513 federais.
Sempre ele
Não bastasse tudo isso, temos novamente o Judiciário em cena. Sempre com ele, obviamente, o imperador tupiniquim. O todo-poderoso. A suprema toga vinha sendo desafiada nos últimos dias por um senador que não serve de exemplo em termos comportamentais, um dos 81 que parece um pouco fora de foco. É Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo.
Data marcada
Na quinta-feira, do Val foi homenageado pelo xerifão que nunca teve um voto popular. O senador já estava em seu estado, quando o imperador determinou busca e apreensão na residência e no gabinete dele em Brasília. Era o dia do aniversário do senador. A batida dos federais ocorreu na quinta à tarde.
Ilegalidades
Qual a motivação? Simplesmente porque o senador resolveu desafiar o xerifão. Como ele tem dois inquéritos ilegais e imorais funcionando à sua disposição há quatro anos, o supremo juiz simplesmente manda a PF bater onde e contra quem ele quiser.
Lorota
Desta feita, o “argumento” foi baseado em supostos atos antidemocráticos que teriam sido realizados, segundo o STF, no governo Jair Bolsonaro. Portanto, há alguns anos atrás. Não tem nada a ver com o 8 de janeiro, que já foi no governo atual.
Canetada
E pronto. O imperador resolveu atravessar e avançar na direção do Senado pela primeira vez. Até então, os ataques do imperador eram só na Câmara.
Voz rouca
Ou o povo ocupa o asfalto como ocorreu em junho de 2013, encurralando e pressionando o Congresso a ter um comportamento diferente em relação a seus atos e em relação aos atos do Judiciário, especialmente aos do dono deste país, ou nós definitivamente estaremos caminhando para o precipício porque a ditadura da toga está instalada no Brasil.
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