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“Tecnopopulismo e Jacarés”

Foto divulgação | Pexels

Por: Raphael Rocha Lopes

26/01/2021 - 11:01 - Atualizada em: 26/01/2021 - 11:13

“♫ E o fascismo é fascinante/ E deixa gente ignorante fascinada/ É tão fácil ir adiante e se esquecer/ Que a coisa toda tá errada/ Eu presto atenção no que eles dizem/ Mas eles não dizem nada” (Toda forma de poder; Engenheiros do Hawaii).

Populismo: prática política justificada na defesa dos interesses das classes de menor poder econômico, a fim de conquistar sua aprovação. Populistas invocam um “inimigo comum”, que varia conforme local e época. Utilizam-se do ressentimento e do vitimismo, ainda que de maneira disfarçada em alguns casos, e de mensagens inflamatórias, em vez de buscar a união de seus governados.

Hoje quando se fala de populismo remete-se facilmente também as classes economicamente remediadas ou altas, mas bitoladas, que caem nas armadilhas do ressentimento e do vitimismo.

O tecnopopulismo é a utilização da tecnologia (leia-se internet e redes sociais) para conquistar parcela da população com aquilo que ela quer ouvir, ainda que para isso renuncie-se à verdade e à ética. Como já disse um estudioso político, “o [tecno]populismo é o filho do casamento entre a cólera e os algoritmos”.

Há tecnopopulistas da esquerda à direita, nas Américas, Europa, Ásia e África, e são todos, assim como os antigos populistas, aspirantes a poderes ditatoriais.

Jacarés.

Os tecnopopulistas não primam pela coerência ou pela verdade. Seu principal intuito é alegrar sua claque cega ou míope e fazer com que eles se sobreponham aos que discordam, ainda que pela força, ainda que invadindo prédios públicos, ainda que reputações sejam assassinadas e ainda que pessoas morram.

Tecnopopulistas enxovalham as disciplinas das áreas de humanas, pois sabem que isso faz parte do aprender a pensar e não querem que seus seguidores aprendam. Também têm um prazer inexplicável de negar a ciência, são adeptos de negacionismos, e contribuem com a morte de milhares de pessoas. Presidentes tecnopopulistas já disseram que desinfetante preveniria ou que vodca com sauna curariam a Covid-19. E houve quem acreditasse…

Os tecnopopulistas não têm qualquer pudor de dizer que vacinas transformam pessoas em jacarés e que tudo o que falam contra eles é fake news, desde que suas claques (ainda que cada vez menores) continuem aplaudindo.

Os mecanismos.

A diferença entre as aberrações dos populistas e dos tecnopopulistas são os mecanismos. O aparelhamento agora é pelas redes sociais e aplicativos de comunicação. Antes as loucuras ficavam adstritas a pequenos círculos e os sensatos do grupo conseguiam contornar. Hoje os tecnopopulistas digitam e milhares de seguidores (dos quais muitos falsos) replicam as insanidades e o volume traz uma certa sensação de veracidade.

Riscos e esperanças.

Tecnopopulistas, assim com populistas, têm uma atração pelo antidemocrático, às vezes tentando convencer suas claques que restringir é libertar. Ou, como diria o Grande Irmão (1984), que “guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”. Na Hungria, por exemplo, o governo sufocou a imprensa e hoje todos os grandes veículos foram comprados pelos amigos dos amigos. Ainda que haja falhas, a independência da imprensa é um dos mais fortes pilares da democracia.

De outra via, muitos estão entendendo que, para um progresso democrático, é necessário ouvir e respeitar as opiniões diversas e que as liberdades devem ser respeitadas. Não se evolui socialmente só com um ponto de vista. Ainda há futuro.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.