Sextorsão e seu filho

Foto: divulgação

Por: Raphael Rocha Lopes

21/05/2024 - 11:05 - Atualizada em: 22/05/2024 - 09:58

“♫ So the world goes round and round/ With all you ever knew/ They say the sky high above Is Caribbean blue/ If every man says all he can/ If every man is true/ Do I believe the sky above/ Is Caribbean blue” (Caribbean blue; Enya).

Em português essa palavra – sextorsão – soa um tanto quanto estranha. Oriunda do neologismo da língua inglesa, sextortion, é uma espécie de junção das palavras sexo e extorsão, e quer dizer extorsão por conta de imagens de sexo ou de vídeos íntimos.

As vítimas, até pouco tempo atrás, eram praticamente só mulheres, de todas as idades, mas principalmente as adolescentes ou jovens que caíam na lábia de algum criminoso da internet ou de algum amigo (que não deixa de ser criminoso) e trocava imagens íntimas com ele. Em posse dessas imagens, o abusador exige algum valor “para não distribuir as imagens”, ou mesmo mais imagens e vídeos íntimos.

Sempre houve casos com homens, mas em números infinitamente menores. E agora há uma tendência crescente desse crime contra adolescentes do sexo masculino.

O golpe no pai

Há vários anos, um garoto de dez ou doze anos descobriu que o pai tinha acessado sites pornográficos. Isso foi na Índia (antes que algum leitor por aí se entregue). Então o pai começou, por um e-mail desconhecido, a ser extorquido. O tal pai foi à delegacia e a polícia descobriu, no final das contas, que se tratava do próprio filho.

Não sei como a família resolveu a questão, mas esse é só um ponto leve num oceano de muitas barbaridades.

Vítimas fatais.

Não são incomuns os casos de garotas e mulheres que se suicidaram ou tentaram por causa de imagens suas divulgadas nas redes sociais e, principalmente, nos grupos de aplicativos de comunicação, como o WhatsApp. Já comentei, em texto antigo, que além da pessoa que primeiro divulga, as que compartilham também podem responder civil e criminalmente por atos desta natureza.

Recentemente, porém, o tema ganhou destaque internacional por conta de um garoto escocês de 16 anos que se suicidou depois de ter sido induzido por criminosos que se passavam por uma garota a enviar fotos comprometedoras. O episódio aconteceu em dezembro do ano passado, mas foi no último mês que ganhou repercussão porque o governo, pela agência própria, enviou um alerta a milhares de profissionais da educação objetivando orientá-los no apoio aos jovens e adolescentes.

O fato é que esse tipo de crime contra adolescentes e jovens está crescendo no mundo todo, especialmente com vítimas do sexo masculino, e no Brasil não é diferente. Nem todos os adolescentes, porém, conseguem administrar psicologicamente esse drama de forma adequada ou têm o apoio da família.

Muitas escolas ainda passam à margem desse grande problema, sem discussões internas e sem diálogo com os pais.

É importante que pais e escolas saibam que, em muitos dos casos, os criminosos são profissionais organizados, muitas vezes sediados em outros estados e mesmo em outros países, que já criaram mecanismos e metodologias para induzir as vítimas.

Por isso, a orientação, a conversa e a conscientização, com parceria entre pais e escolas, são de suma importância; e o suporte adequado às vítimas, da mesma forma.

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.