Róliude Nordestina

Por: OCP News Jaraguá do Sul

10/06/2016 - 04:06

Fim desse mês regresso ao nordeste. E relembrando uma passagem que lá tive, no sertão da Paraíba, pra eles, cariri nordestino (uma microrregião do sertão), no meio de uma estreita rodovia estadual, um letreiro de uns 80 metros de comprimento por uns 5 metros de altura surge ao lado de mandacarus e xiquexiques (espécies de cactos, comuns do nordeste) e uma família de bodes. As letras formam a expressão “Roliúde Nordestina”, dando boas vindas à pequenina cidade de Cabaceiras. Esse povoado com casinhas  em azul, amarelo e branco, de calçada do século 19, ruelas de cascalho e barro, por muito tempo foi só conhecido como o lugar que menos chove no Brasil. Em seu inocente isolamento, agora o povoado tem lugar cativo na história do cinema brasileiro: já foi palco de documentários e de longas-metragens, entre eles o consagrado “O Auto da Compadecida” que virou minissérie e o premiado “Cinema, Aspirina e Urubus”. Este tomou de empréstimo a paisagem cheia de pedras e espinhos – um Nordeste rachado pelo sol -, para ambientar as andanças de um alemão vendedor de aspirinas em busca do anonimato nos confins do Brasil, nos anos difíceis da Segunda Guerra. Particularmente, um dos melhores filmes nacionais que assisti. Naquelas paisagens lembro também de “Romance”, um filme com Wagner Moura, José Wilker e Letícia Sabatella. E, recentemente, pronto pra estreia “Deserto”, um filme de Guilherme Weber com Lima Duarte no elenco.

Assim que desci de um ônibus, um senhor que vestia uma camisa listrada parcialmente desabotoada, além de um sapato modesto, veio a mim. Receptivo, indicou-me a única hospedagem da cidade. Lugar pra lá de básico, mas que abrigou estrelas do cinema nacional. Seu nome é Zé de Sila, sujeito que fala até pelos cotovelos, mas não aborrece. Suas conversas têm a dose certa de mentiras estrategicamente colocadas para realçar seus feitos – não os inventando, eram arquitetadas na varanda defronte ao seu estabelecimento comercial, bem diante da pracinha central. Seu estabelecimento vendia panelas, botinas em couro de bode, redes de dormir, cuecas, xaropes curandeiristas, rapadura, cachaça – um repertório de caixeiro-viajante a moda antiga, figurino que ele interpretou no filme “Os Desvalidos”. Diz que sua cena preferida, de figurinista, foi no “Cinema, Aspirina e Urubus” que se passa num bordel. “O meu papel era ficar abraçado, namorando e passeando pelo cabaré com aquela menina a noite todinha”. Mas o assunto preferido de Seu Zé de Sila são suas aventuras amorosas e os bailes nos anos de 1960.

Entre um gole e outro de uma cachaça com butiá, seus amigos se metem na conversa: “O apelido de Seu Zé de Sila é encantador de viúvas. Ele tem fama de conquistar mulheres que acabaram de perder maridos”. E todos caem na risada.

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Publicação da Rede OCP de Comunicação