Por Célia Gascho Cassuli
Advogada
Muitos de nós já estiveram na Europa ou, se não estiveram, nossos amigos e parentes foram ao velho continente e vieram contando maravilhas, principalmente o que viram nos museus e nas ruas, na conservação das construções centenárias, dos castelos e das catedrais. A essas pessoas convém lembrar que, ao final da segunda guerra (1945), das cidades alemãs de Berlim, Dresden (a que mais teve perdas), Hamburgo e Colônia só restavam escombros. A história sobre Berlim nos conta que das 1.562.641 habitações, só 370.000 ficaram em condições de serem novamente habitadas.
Contudo, em visitas o que se vê, são edificações centenárias, reconstruídas “tijolo a tijolo”, muitos retirados dos escombros, fato que pode ser exemplificado pelas Trümmerfrauen (mulheres dos escombros) de Berlim que, no primeiro dia de julho de 1945, receberam a ordem de juntar e limpar pedras e tijolos nas cidades arrasadas pelos bombardeios.
Deveríamos admirar e aplaudir não apenas as “obras centenárias”, mas sua reconstrução. Não tivessem aqueles europeus decidido por repor “cada pedra em seu lugar” não teríamos nenhum desses patrimônios históricos para apreciar!
Nesses últimos dias temos visto algum movimento em torno do reaproveitamento do pilar da “Velha Ponte” (de saudosa memória) de ferro que havia sobre nosso Rio Itapocu. Ela foi a primeira ponte “Abdon Batista”. Mas o tempo lhe foi implacável. Afinal, a “Velha Ponte” foi construída em 1913, depois que uma ponte baixa, de madeira, foi levada por águas de uma enchente.
Poucos sabem do “acaso” que deu origem a tal ponte de ferro sobre o Itapocu. Essa estrutura foi construída na Inglaterra por encomenda da África do Sul. O navio que a transportava, ao aportar em Florianópolis (na época havia porto), por engano ou “sorte” providencial, acabou descarregada ali. Na época, o Sr. Abdon Batista era deputado estadual (por Joinville, município ao qual pertencíamos) e estava ciente da necessidade da Colônia Jaraguá reconstruir a ponte, pois as balsas tinham voltado a fazer a travessia. E assim, por intermédio desse senhor, Jaraguá tornou-se dona de uma ponte de ferro inglesa, coberta com zinco e piso de tábuas (madeira de verdade).
Dela só restou aquele marco (pilar) histórico, no qual se pretende “pendurar” uma ponte estaiada que custaria, ao erário municipal, uns 10 milhões de reais!
Consta que está instaurada uma campanha em prol da reconstrução da ponte, utilizando o marco histórico e mantendo seu estilo (de ferro, telhas de zinco etc), como homenagem aos nossos antepassados que não esqueceram, em tempo algum, das cidades do Velho Continente. Somos todos, de alguma forma, herdeiros e admiradores dessa riqueza preservada pela gente europeia, mas, o que estamos fazendo para preservar o que aqui foi construído?