Putamerda

Por: OCP News Jaraguá do Sul

18/06/2016 - 04:06

Poucas pessoas sabem disso, mas, a alça de teto automotivo/apoio interno ganhou sua popularidade aqui em Jaraguá do Sul há muito anos.

Isso aconteceu no tempo em que algumas das carroças do Rio Molha foram sendo substituídas pelos primeiros carros. Eram poucos os carros e as famílias que os possuíam não andavam todos os dias. Não tinham a pretensão de ostentar o novo bem e, também, ficava difícil descer o Molha de carro, pela estrada de terra, ainda estreita, dividida com cavalos e carroças subindo e descendo.

Coincidentemente, nesse bairro que morava o nono e a nona, donos de um engenho de cana, onde fabricavam melado e cachaça. Foi ideia dela comprar o carro. Ouviu sobre o “Volks” no rádio e depois viu num almanaque. Isso já tinha atiçado a curiosidade, mas, o que encheu a boca dela de água mesmo foi ver a dona Adelina descendo de um Fusca bege perto do Bar Catarinense. Ah, a nona não falava noutra coisa!

Acredito que a nona e a dona Adelina eram as rivaizinhas da juventude. Disputavam quem cantava mais alto na igreja, quem era tirada, primeiro, para dançar nos bailes… Essas coisas. A nona não podia ficar por baixo e tanto fez que o nono acabou cedendo e comprou um Fusca verde-desbotado 1950. A sensação do Molha!

Ela estava planejando aparecer triunfante no Volks. A exibição seria domingo, na porta da igreja matriz. Era ali que a dona Adelina assistia a missa. Era ali que a rivalidade havia começado.

Domingo, emperiquitada, a nona se acomodou no fusca e os dois seguiram rumo à igreja, ruma à glória. A humildade que ficasse para depois, durante o sermão. Daria um cruzeiro a mais na caixinha do ofertório para se redimir do orgulho que estava sustentando.

O nono, todo cauteloso, guiava lento pelos buracos do Molha, passado facilmente por aqueles que seguiam de cavalo ou bicicleta. As carroças, infelizmente, precisavam seguir atrás do “roda presa”, passando quando havia um pedaço alargado da rua.

Impaciente, a nona soltou um: “Acelera, homem! O padre não espera ninguém”. A preocupação era óbvia, se a missa já tivesse começado, a dona Adelina não a veria chegando. Ele acelerou e os dois pulavam feito pipoca dentro do fuque. Na descida, a nona ia pulando e escorregando de encontro ao painel do carro e, num ato de autoproteção, ela passou a mão na alça de couro do Fusca e gritou: “Puta la merda, vetcho! Mas já pula esse cabrito!”

O nono não quis mais nada. Era a primeira vez que ouvia sua esposa falando um palavrão. E ele achou tão cômico aquilo, que contava para todo mundo. Sempre que alguém pedia para ver o carro, ele mostrava a alcinha e inquiria sobre o nome da peça e, rindo, contava a história de novo e de novo.