A posse dos novos integrantes do primeiro e segundo escalões do governo Jorginho Mello, realizada nesta quarta-feira (10), já apresentou uma defecção. Na verdade, a investidura estava prevista para segunda-feira, 8. Data que acabou não se consumando em função de uma liminar que, temporariamente, impediu a posse do advogado Filipe Mello, filho caçula do governador, como secretário da Casa Civil. Na própria segunda-feira, a decisão foi derrubada. O fato é que Filipe, mesmo liberado pela Justiça, anunciou na terça-feira, no fim do dia, que não assumiria. Não se sabe exatamente se por essa situação de imbróglio judicial ou se por uma melhor reflexão do governador e de seu filho. O advogado escalou a tribuna das redes sociais para anunciar que continuaria contribuindo com o governo do pai, Jorginho Mello, mas sem assumir cargo algum. Como já vem ocorrendo e como ocorreu ao longo de todo o exercício 2023.
Risco calculado?
Neste espaço já havíamos registrado que a indicação e posse de Filipe Mello na Casa Civil constituía-se numa operação de elevadíssimo risco. Ele até poderia ter uma bela performance à frente da pasta. Azeitar bem as relações do Executivo com o Legislativo. E considerando sua formação em Direito, desfrutaria de bom trânsito no Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e por aí vai.
Potencial
Claro que isso tudo, em tese, pontencializaria política e administrativamente com vistas às pretensões eleitorais de recondução de Jorginho Mello em 2026. Entretanto, na eventualidade de um desgaste de Filipe no exercício da Casa Civil, isso repercutiria diretamente na figura do governador. Inapelavelmente.
Avaliando
O que pode ter motivado uma melhor reflexão por parte da família e chegaram à conclusão de que seria melhor deixar tudo como está.
Timing
Tudo isso ocorreu a menos de 12 horas da posse conjunta dos novos integrantes do primeiro e segundo escalões do governo.
Canja de galinha
Observou-se, portanto, grande cautela por parte dos Mello. O advogado seria o novo homem forte do governo, uma espécie de eminência parda. Mas isso poderia custar muito caro a Jorginho no caso de um insucesso de seu caçula à frente da Casa Civil, o que levou-os a puxar o freio de arrumação. Mas Filipe continuará desempenhando papel estratégico no governo.
Lembrar é viver
Até porque, não custa lembrar, há aquela passagem, já relatada pelo blogueiro em outros oportunidades, que é didática em situações como essa.
Em 1982, André Franco Montoro foi eleito governador de São Paulo, no ano que marcou o retorno das eleições diretas para os mandatários estaduais.
Senado
Ele havia sido eleito senador por SP em 78. Ou seja, Montoro renunicou ao mandato na Câmara Alta. Quem assumiu – na época não existia a figura do suplente – foi Fernando Henrique Cardoso, o segundo mais votado. Abre parêntese. FHC foi apoiado, à época, pelo então sindicalista Lula da Silva, que ainda não havia fundado o PT com seus camaradas, o que ocorreu em 1979. Fecha parêntese.
Andrezinho
Naqueles dias, Franco Montoro chamou o sociólogo Fernando Henrique – uma figura com a qual os emedebistas se aconselhavam – para ouvir dele o que achava da possibilidade de nomeação de seu filho, Andrezinho, para a Casa Civil paulista.
André e Fernando
Montoro chamava FHC de Fernando e Fernando chamava Montoro de André. Fernando disse a André uma frase basilar: o problema não é nomeá-lo. O problema é quando você precisar demiti-lo.
Escorregou
Foi exatamente o que ocorreu. Andrezinho atritou-se com os deputados da Alesp e o pai não teve opção a não ser exonerá-lo. Além do desgaste político, isso rachou a família Montoro.
JKB
Essa história foi relatada por FHC, no plenário do Senado, ao então senador catarinense Jorge Bornhausen.
Talvez o exemplo do século passado na família paulista tenha inspirado Jorginho e Filipe a recuarem.