Pensar e trair – Luiz Carlos Prates

Por: Luiz Carlos Prates

30/08/2023 - 06:08

Fiz as contas, eu devia ter uns 23 anos. Rolava um encontro de família, na casa de um primo. Muita gente. Lá pelas tantas, depois de muito lero-lero sobre honestidade, ética, bons comportamentos, enfim, o assunto foi morrendo. Foi aí que joguei lenha na fogueira, mas não esperava por tanto fogo. A minha proposta foi a seguinte, ao meio de muitos namorados e casados: – “Vamos supor que uma de vocês (me referia às mulheres) ficasse sabendo que o marido vive pensando e desejando uma mulher lá do local onde ele trabalha, um desejo, uma admiração daquelas… Esse desejo, esses pensamentos dele, configurariam para você traição? Foi a lenha que joguei na fogueira das conversas. Ninguém respondeu de primeira. Um homem foi o primeiro a falar, ele disse que não, que só pensar e desejar não configura traição, infidelidade. E era isso que eu queria ouvir. Joguei mais lenha na fogueira. Disse, enfaticamente, que “pecamos por pensamentos, palavras, obras e omissões”. Falei exatamente como ouvi incansáveis vezes os irmãos maristas falar em sala de aula. “Pecamos” por pensamentos, sim. E era aqui que eu queria chegar, leitora. Fazer ou dizer alguma coisa pode caracterizar crime, “pecado”, do ponto de vista religioso. Mas e pensar? E desejar sexo com outra pessoa sendo a pessoa casada, ou nós mesmos casados, não será também “pecado”? Pelos ditames do cristianismo que me foi ensinado, sim, é pecado. E a partir dessa verdade, ninguém é santo, ninguém. Duvido que até hoje tenha nascido alguém que não “pecou” pensando. Ora, bolas, que os hipócritas vão mentir lá atrás do morro. Todos os casados traem. Traem pensando, os que não traem fisicamente. Quem já não roubou? Quem já não

pensou em matar ou desejou a morte de alguém? Mesmo que não de um modo muito agudo e claro, pensou sim, desejou sim. E vem dessa verdade, a de que todos pensamos, desejamos e traímos por pensamentos, que muitos querem escancarar a porta para todos os despudores, só que… O amor é exclusivista. Não existe amor coletivo. Alguns imbecis tentaram isso lá pelos inícios da década de 60 do século passado e acabaram se pegando pelos cabelos quando um ou uma avançava o sinal sobre a “propriedade” alheia… Por fim, levante o dedo aí quem já não traiu por pensamentos?

VIDA

A decisão mais fácil na vida é o falar. Dizer, por exemplo, – Ah, vou mudar minha vida! Facílimo dizer isso. Fácil também é mudar a alimentação, é começar a fazer exercícios (gemidos por dentro), muitas, enfim, mudanças na vida, mudanças da boca para fora. De nada vão adiantar. Se não houver a mudança dos valores na vida, a mudança no modo de pensar, melhor continuar como estamos. A única mudança que funciona é a da cabeça…

MUDANÇAS

Alguém se queixa de viver em depressão, com a crista baixa, e ouve, como conselho, desapegar-se, largar de quase tudo. A pessoa segue o conselho e nada muda… Nada muda porque dentro da cabeça as coisas continuam as mesmas, os mesmos apegos. Não são os apegos por fora que nos lascam, são os

apegos idiotas e sem valor por dentro, na cabeça. A pior tentativa de engano é o engano a si mesmo…

FALTA DIZER

Sociedade (s) hipócrita. Você acredita mesmo que haja medicina, assistência médica, por igual para todos, pobres e ricos? Acredita que haja “justiça” por igual para todos, pobres e ricos? Se responder sim, bato-lhe no ombro, vamos acorde, acorde! Ora, bolas…

 

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Luiz Carlos Prates

Jornalista e psicólogo, palestrante há mais de 30 anos. Opina sobre assuntos polêmicos.