Os mecanismos de ambientes hipersociais como práticas sujeitas ao cdc

FOTO: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

12/12/2023 - 14:12 - Atualizada em: 12/12/2023 - 16:33

(Parte 2)
(Texto escrito em co-autoria com o advogado e professor DARWINN HARNACK, idealizador do tema).
(continuação)

Como mencionado, a estratégia de viciar consumidores/usuários não é casual. Isto, aliás, já foi relatado por diversos programadores que atuaram diretamente no desenvolvimento desses softwares, como dito acima. A título exemplificativo, segue trecho de entrevista de um programador para a BBC de Londres:
“É como se eles estivessem tomando cocaína comportamental e apenas borrifando por toda a sua interface e isso é o que faz você voltar e voltar”, disse Aza Raskin, ex-funcionária da Mozilla e da Jawbone.
“Por trás de cada tela do seu telefone, geralmente há literalmente mil engenheiros que trabalharam nessa coisa para tentar torná-la o máximo viciante”, acrescentou.

Por essas razões, personalidades bem informadas como Steve Jobs e Bill Gates, entre outros magnatas e ícones do Vale do Silício, limitaram o acesso de seus filhos a essas mídias:

Os pioneiros tinham isso claro desde o início. Bill Gates, criador da Microsoft, limitou o tempo de tela de seus filhos. “Não temos telefones na mesa quando estamos comendo e só lhes demos celulares quando completaram 14 anos”, disse ele em 2017. “Em casa, limitamos o uso de tecnologia para nossos filhos”, explicou Steve Jobs, criador da Apple, em uma entrevista ao The New York Times em 2010, na qual disse que proibia os filhos de usarem o recém-criado iPad. “Na escala entre doces e crack, isso está mais próximo do crack”, declarou Chris Anderson, ex-diretor da revista Wired, bíblia da cultura digital, também ao The New York Times.

A base para essa tomada de decisão a respeito do cuidado com os filhos não é apenas empírica, encontra base científica. Nesse sentido, um estudo realizado pela Universidade de Ottawa no Canadá, com 4.500 crianças e publicado na revista científica Lancet Child & Adolescent Health, atingiu a seguinte conclusão:

As conclusões, publicadas na The Lancet Child & Adolescent Health, são muito claras: quanto mais recomendações individuais meninos e meninas cumprirem, melhores serão suas habilidades. Mas há um tema que se destaca dos demais: o tempo gasto em dispositivos é aquele que tem uma relação mais forte com a maturação intelectual. “Descobrimos que mais de duas horas de tempo recreativo com telas estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo em crianças”, concluem os pesquisadores da Universidade de Ottawa.

Além disso, em razão desse achado, eles recomendam que pediatras, pais, educadores e políticos promovam uma “limitação do tempo de tela recreativa e priorizem rotinas de sono saudáveis durante a infância e a adolescência”.

Esse tipo de informação é importante, na medida em que se constata, aqui no Brasil, um aumento progressivo da exposição de crianças de tenra idade às telas de smartphones e de dispositivos similares, conforme demonstra pesquisa realizada pela Revista Crescer, num comparativo entre os anos de 2013 e 2018:

Uma das conclusões foi que aumentou o tempo que meninos e meninas passam diante de algum tipo de tela – dos televisores aos smartphones. Hoje, 47% deles gastam mais de três horas com a atividade. Há cinco anos, o volume era de 35%. “Também chama a atenção o grande número de crianças que, com menos de 2 anos, já possuem algum dispositivo digital”, diz o neurologista infantojuvenil Marco Antônio Arruda, do Instituto Glia (SP), que analisou alguns dos dados da pesquisa. Segundo o estudo, 38% delas já têm um celular, tablet, computador, videogame ou TV – no passado, só 6% eram donas de um aparelho. Alguém se identifica?

Na mesma linha, a American Psychological Association (APA), no artigo “What do we really know about kids and screens?”, já de 2020, diz:

A investigação, no entanto, revelou evidências que apoiam a limitação do tempo de tela para bebés e crianças pequenas. Um estudo longitudinal com 2.441 mães e crianças, liderado pela psicóloga Sheri Madigan, PhD, da Universidade de Calgary, descobriu que mais tempo por semana gasto em telas aos 24 e 36 meses de idade estava associado a um pior desempenho em testes de triagem comportamentais, cognitivas e sociais. desenvolvimento aos 36 meses (JAMA Pediatrics , Vol. 173, No. 3, 2019 ). A associação oposta (desenvolvimento pior levando a mais tempo de tela) não foi observada, sugerindo que a ligação não era uma questão de os pais se apoiarem no tempo de tela para lidar com uma criança desafiadora. Em vez disso, o tempo excessivo de tela parecia preceder as dificuldades de desenvolvimento.

Obviamente, a análise não pode ser tão superficial e o artigo traz vários pontos que devem ser considerados, inclusive o pouco tempo de estudos para conclusões definitivas sobre esse tema.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.