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Os ex-casais, as redes sociais e a vergonha alheia

FOTO: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

17/10/2023 - 10:10 - Atualizada em: 17/10/2023 - 16:48

 

“♫ Ela disse adeus e chorou/ Já sem nenhum sinal de amor/ Ela se vestiu e se olhou/ Sem luxo, mas se perfumou/ Lágrimas por ninguém/ Só porque é triste o fim/ Outro amor se acabou” (Ela disse adeus; Os Paralamas do Sucesso)

A democratização da internet veio com alguns sobressaltos comportamentais. Ilustres, famosos, subcelebridades ou desconhecidos passaram a utilizar esse mar de bits e bytes para manifestações boas e ruins, de todas as naturezas. O que muda é o alcance do que se diz – ou do que se quer dizer. Da zona de conforto à zona total.

Nas redes sociais encontra-se de tudo no que diz respeito aos relacionamentos. De aplicativos de encontros que viram casamentos verdadeiros a vítimas que caem em golpes, traídas pelo amor ou pela carência, perdendo suas economias e, algumas vezes, sua dignidade.

Nas redes sociais encontra-se de tudo no que diz respeito aos fins de relacionamentos. De ex-casais que convivem harmoniosamente a nova solteirice, algumas vezes até se elogiando ou se apoiando, a aqueles que transformam a internet num ringue virtual de nível duvidoso, ladeira abaixo.

Do antes ao agora.

Em um passado não muito distante, quando casais terminavam seus relacionamentos em conflito, por pior que fosse o barraco, normalmente se restringia ao círculo mais íntimo tirando uma fofoca aqui, outra ali – e aos seus advogados e ao juiz da causa que iria defenir o futuro de quem não conseguiu fazer por si só.

Com ou sem lamentações, a vida continuava…

O que se vê agora é um festival inominável de exposições desnecessárias nas redes sociais, que acabam atingindo não só a honra dos envolvidos, mas a vida e a saúde dos parentes e, principalmente, dos filhos. De ameaças a baixarias de todos os tipos, pululam exemplos diariamente.

E a vida para essas pessoas, que perdem seu foco.

Da discrição ao descritivo.

Na realidade, ninguém tem nada a ver com a vida íntima dos outros (óbvio, quando não está se falando de crimes ou riscos de vida). Mas baixaria vende. Ainda mais se vier acompanhada com dramas ou melodramas dos fins de relacionamentos (já tristes suficientes por si só, como diz na música do início do texto). Isso gera, como se diz hoje, engajamento. Os algoritmos adoram um faniquito coletivo, um efeito manada, uma turba endoidecida distribuindo joinhas, compartilhamentos e xingamentos. Os anunciantes publicitários se aprazem e agradecem!

Aqueles casais discretos – dentro do possível – como Sandy e Lucas, que guardam suas diferenças para dentro de casa (apesar que parece que voltaram), estão cada vez mais raros. O ibope de situações assim é efêmero.

Por outro lado, gritar nas redes sociais tentando humilhar o ou a ex publicamente, com descrições que não deveriam ultrapassar a esfera íntima, esquecendo que a prole sofre, a la Luana Piovani, tem acontecido mais do que o bom senso desejaria.

Cada um tem suas razões, mas a mesma música de antes diz, com a licença poética que me permito, que o que está feito, está feito; deixem-se seguir com a vida, deixem-se se divertir. A única coisa que a internet vai trazer, nesses casos, cedo ou tarde, é o arrependimento e o constrangimento. E, talvez, uma boa ação por danos morais…

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.