Quando cursei Engenharia Mecânica na UFSC-Florianópolis, entre 1971 e 1975, em plena época de rigor máximo do regime militar, convivi com “assédios” ideológicos da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), incluindo feiras de livros, vendidos nas cantinas universitárias, a “preço de banana”, para conquistar os universitários, acerca das (falsas) “maravilhas” do socialismo, assim proclamadas: “para todos, sem exceção, igualdade de educação, moradia, emprego, saúde e transporte”.
Ademais, o saudoso e valoroso Chefe de Departamento da Engenharia Mecânica, Prof. Caspar Erich Stemmer, fundador do Curso, depois Reitor da UFSC e Diretor da WEG Automação, trazia containers e containers cheios de máquinas operatrizes da antiga DDR-Deutsche Demokratische Republik (a parte comunista da Alemanha), para os laboratórios.
Enfim, mesmo “pandemizados” com a ideologia socialista-comunista, continuamos estudando assiduamente, isto é, focando no que interessava para o nosso futuro profissional de Engenheiro Mecânico, ou seja, dedicando-nos às difíceis e trabalhosas disciplinas científicas e tecnológicas do curso.
Tudo porque havia, ainda, a consciência do ensino superior como etapa da educação, onde o aluno se aprofunda em um campo de estudo específico, buscando adquirir o conhecimento e as habilidades necessárias para uma carreira profissional hierárquica e materialmente ascendente ou para uma formação acadêmica mais avançada.
Afinal, ao contrário do ensino médio, em que as matérias são mais generalistas e abordam diversas áreas do saber, no ensino superior o aluno escolhe um curso específico que alinha com seus interesses e objetivos pessoais.
Por isso, essa etapa do ensino institucional é tida como a mais elevada dos níveis de aprendizado, sendo as etapas posteriores meras ramificações do que é aprendido no ensino superior.
A radicalização política nas Universidades brasileiras as faz perderem qualidade de ensino e deixarem de ser centros de pensamento crítico e inovação, onde a diversidade de ideias deveria ser uma força, não uma fonte de divisão
Em assim sendo, a principal função das universidades deveria ser a formação de competências profissionais, com autonomia, pensamento crítico e especialização, mas denúncias de todos os cantos mostram que esse cenário tem mudado: a intolerância e as ideologias políticas têm dominado o ensino superior a ponto de não se explorar, mais, verdades, por meio do diálogo e confronto de interesses.
Hoje em dia, com a polarização e a radicalização política, infelizmente, o diálogo foi substituído por conflito e a discordância amigável se torna cada vez mais rara, situação esta que impede que as universidades cumpram seu importante papel, também como centros de pensamento crítico e inovação, onde a diversidade de ideias deveria ser uma força, não uma fonte de divisão.
O pior de tudo é que a radicalização política está trazendo resultados prejudiciais à qualidade do ensino superior no Brasil: atualmente, segundo o ranking da CWUR-World University Ranking, nenhuma Universidade brasileira está entre as 100 melhores Universidades do continente americano.
Este declínio das Universidades brasileiras até levou à criação do “Unitopia”, movimento destinado a buscar possíveis soluções, junto àqueles que “vivem o problema na pele”, baseado no conceito que combina as palavras “unidade” e “utopia”, para uma universidade melhor, baseada na unidade e cooperação, de visão de mundo em que todas as diferenças são superadas em prol do bem comum (qualidade na formação pessoal e profissional) e onde a harmonia, a igualdade e a paz prevalecem.
Disto, eis uma pergunta que fica: conseguirão as universidades brasileiras voltar a ser centros de excelência no ensino superior ou continuarão a ser meras estimuladoras de “extremistas” (radicais, de um lado e alheios, de outro) ?!?
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Emílio Da Silva Neto
PhD/Dr.Ing, Pós-Doc, Ex-Diretor Superintendente WEG
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