O único lugar onde falar e fazer é fácil é pátio de hospício. Num pátio de hospício, o sujeito entorta a aba do chapéu e proclama-se Napoleão e pronto, ele é Napoleão. Mas fora do pátio de hospício, sabemos que há um formidável abismo entre falar e fazer, falar e ser.
Acabei de ler uma entrevista numa revista…, não digo que revista é… Nem o nome da personagem. Sabes como é, depois vem aquela história do “não foi isso que eu disse, não é bem assim…” Foi isso sim e ponto. Além de tudo, não há nada demais na declaração, pelo contrário, há de minha parte só um tiquinho de inveja e um pouco de desconfiança. Mas a desconfiança é coisa minha, sou um cético nato e hereditário. Vamos lá.
A pessoa entrevistada, perguntada como estava o seu momento na vida, respondeu que estava em Plenitude, não havia o que melhorar, tudo certo, na ordem devida… Diachos, fecho os olhos e me vejo numa ventania, não digo que haja razões para essa ventania, grosso modo, não há… Mas não consigo fazer essa “ventania” virar uma brisa, nem digo Plenitude. Plenitude, pelo que sei e estudei, viveu São Francisco…
Viver um momento de “plenitude” se me afigura um momento sem nenhum tipo de problema, em paz, brisa no rosto e perfume nas narinas, é isso? Muitos já me disseram que não, que esse quadro pintado pela imaginação não existe. Tudo bem, mas quero chegar a essa Plenitude, não posso? O que muitos dizem é que podemos, sim, basta não pensar em problemas, respirar o ar da vida, dar de ombros, desapegar-se, enfim… – Ah, é isso? Bah, como é fácil…
Ora bolas, vão procurar coquinhos na mata… Ou essa plenitude alardeada é uma forma de mentir a si mesma/o ou a pessoa plena é um erro da vida que a vida deixou passar sem o carimbo do “a felicidade não é deste mundo”, não é isso o que diz a Bíblia em suas linhas e entrelinhas? Fiquei beiçudo com o que disse a pessoa da entrevista, e se por um lado sou um cético nato e hereditário, de outro sou teimoso como um burro. Vou atrás dessa Plenitude, ah, vou…
Discussão
Já me disseram que essa história de os centenários serem apenas gente pobre está mudando, hoje há muitas pessoas com recursos e vivendo mais de 100 anos. Ah, é? Então, saibam que os pobres vão reagir e vão até os 130… por aí. Não adianta tentarmos tapar o sol com a peneira das nossas enganações, a pessoa pobre que não sofre por ser pobre, que se alegra no que pode, vai continuar tendo mais vida… Os “jecas” não sabem que o que dá saúde é a paz interior?
Falta dizer
Esqueci de dizer que o seu José, esse aí de cima, não toma remédios, não gosta, nem precisa. E como chegou aos centos e tantos anos, sendo tão pobre? Ele é feliz, os ricos só vivem mais, quando vivem, pelo poder dos remédios, se arrastando…