♫ “Você não me quer de verdade/ No fundo eu sou tua vaidade/ Eu vivo seguindo teus passos/ Eu sempre estou presa em teus laços/ É só você chamar que eu vou”♫ (Você me vira a cabeça; Alcione)
Há alguns anos a polarização política está cegando pessoas que até pouco tempo atrás eram ponderadas e conscienciosas e, consequentemente, está causando prejuízos de toda ordem atravancando a vida da sociedade como um todo.
Antes, salvo algumas exceções, debatia-se política (e qualquer outra coisa) com parcimônia, com respeito e sobre ideias. Hoje tudo é culpa de A ou de B, e o interlocutor que defender um lado está fadado a ser xingado de várias formas. Infelizmente para o progresso da humanidade, quase tudo hoje é motivo de discussão política enviesada. Até chocolate. Muita gente parece ter perdido a noção do bom senso e, mais do que isso, o senso crítico.
Nós e eles
Criou-se (e não só no Brasil, e o brasileiro gosta de copiar o que dá errado) uma cultura do nós contra eles, baseada numa ideia maniqueísta. Capciosamente maniqueísta. A semente disso, pode-se dizer, veio lá da ditadura militar com o tal “Ame-o ou deixe-o”, que tentava acobertar as atrocidades que se praticava na época. Bem aquela coisa de filme enlatado: se não está conosco, está contra nós!
Depois de um tempo de apaziguamento, a esquerda, ainda que com uma certa tentativa de disfarce, retomou o nós contra eles numa deplorável divisão entre pobres e ricos. A direita conseguiu dantescamente elevar para outro patamar o nós contra eles: agora são os maus contra os bons.
Isso leva ao que? Quem tiver o mínimo de consciência, sabe: a nada! Pensem quem ganha com isso.
Os outros eles
Enquanto as pessoas normais se escalpelam por causa do seu político de estimação, eles, os políticos, depois das encenações nos púlpitos e nas redes sociais, confraternizam em caros restaurantes com belíssimos vinhos que nossos impostos pagam.
E aí vem uma grande pegadinha. Quem são as pessoas que sofrem, sentindo-se injustiçadas pela esquerda ou pela direita, que brigam com a família por causa de radicalização política? O povo da classe média e os que acham que são ricos. Nem todos, claro, porque ainda há pessoas moderadas.
Os muito pobres não ficam brigando com todo mundo por causa de política porque estão preocupadas com o horário do ônibus que leva três horas pra deixá-los no trabalho e estão pensando como vão comprar o pão pra janta dos filhos. Os ricos, muitos ricos, eu digo, ricos de verdade, jogam o jogo, e sabem que, no final das contas, com esquerda ou direita no governo, vão continuar, em regra, muito ricos ou talvez mais.
Os outros outros eles
São as pessoas da classe média, que se acham superiores aos pobres e aspiram viver como os milionários, que brigam ferozmente por causa da direita e da esquerda. Pessoas que colocam a culpa de tudo no Lula ou no Bolsonaro, ou no que eles representam. Pessoas que ficam semanas na frente da Polícia Federal fazendo vigília para alguém que foi condenado ou que ficam semanas na frente de um Batalhão pensando que aqueles outros se importam com eles (os quais vão para uma praia em outro país). Seria cômico se não fosse trágico.
Lamento dizer, vocês todos que agem assim estão sendo manipulados. Pelos políticos e pelos bots, aqueles robozinhos que parecem pessoas de verdade nas redes sociais e inflam as bolhas das quais vocês participam, vomitando vídeos e mensagens (muitas vezes falsos ou distorcidos) para convencê-los que têm razão e que não estão sozinhos.
Os bots se contam aos milhões, e constituem boa parte dos seguidores dos políticos (de qualquer cor partidária) que vocês seguem nas redes sociais.
Antes da próxima vez que você for replicar uma mensagem recebida de um amigo ou vista numa rede social, pense nisso, se você não está sendo manipulado por um bot programado pela equipe de algum político fanfarrão. Debater política é importante, deixar-se ser manipulado é triste.