O futuro dos esportes: doping tecnológico

Imagem gerada por IA no Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

13/06/2023 - 10:06 - Atualizada em: 13/06/2023 - 13:37

 

“♫ Todo equipado, preparado na linha de partida/ Daqui a pouco vai ser dada a saída/ Todo mundo nervoso e eu não tó nem aí (O importante é competir!)// Ia ser legal chegar junto na frente/ Mas iam falar que quero ser diferente/ Tá bom demais, pelo menos eu não saio da reta
Por isso eu sempre sou/ Terceiro! Ôba-Ôba!” (Terceiro; Ultraje a Rigor).

A competitividade está no sangue dos homens. Pelo menos da maioria deles. Os Jogos Olímpicos modernos, que tiveram sua primeira edição em 1896, em Atenas, foram inspirados nos antigos jogos que eram realizados em Olimpo, na Grécia, entre os séculos VIII a.C e V d.C. Do futebol, há notícia de algo parecido na China dois séculos antes de Cristo, no Japão no século VII, na Grécia e Roma antigas e em vários povos originários nas Américas.

E quando se trata de competir, entra-se em campo ou quadra para ganhar. Esse papo de “o importante é participar” é meio história para boi dormir. Por conta disso, os esportes têm sido boas plataformas de evolução tecnológica. Todo mundo já ouviu falar que muito do que se desenvolve na F1, por exemplo, acaba nos carros normais das cidades. E nos outros esportes, o que

Os atletas sempre buscaram alternativas para melhorar seu desempenho. De treinos mais apurados a drogas ilegais. Quem lembra, no início dos anos 2000, os supermaiôs que trouxeram às raias uma enxurrada de recordes. A Federação Internacional de Natação achou que eram tecnológicos demais e cortou o barato em 2009.

De todo modo, se observarmos os resultados das provas ao longo das décadas veremos tranquilamente uma evolução fantástica. Mais treinos, mais preparação, mas alimentação adequada. Os próprios corpos dos atletas mudaram. Comparem um campeão de natação dos anos 80 e um atual; jogadores de basquete estas mesmas épocas, e por aí vai.

Mas se com treinos, tênis e alimentação adequados consegue-se evitar (tantas) lesões nos atletas de ponta e alcançar melhores resultados a cada ano, há limite? Durante um tempo, pensou-se que sim.

Tirando superatletas fora da curva como Pelé, Michael Jordan ou Usain Bolt, física e mentalmente a frente de seus tempos, imaginava-se que o limite chegaria. Entretanto, a tecnologia quebrou esta linha de raciocínio.

Equipamentos, próteses especiais, inteligência artificial e drogas em conjunto podem transformar (quase) qualquer um em superatleta. Aqueles exoesqueletos que víamos só em filmes de ficção científica daqui a pouco poderão fazer parte do dia a dia esportivo. Inteligência artificial poderá conduzir treinos, alimentação, táticas.

No futebol, por exemplo, o Liverpool ganhou a Champions League, em 2019, utilizando big data cruzando uma base de dados de mais de 100 mil jogadores e o jogador belga Kevin De Bruyne renovou seu contrato com o Manchester City melhorando seu salário também com base em big data!

Doping tecnológico

A questão que fica de tudo isso é: até onde a tecnologia vai interferir nas competições esportivas? Ciborgues, diretos ou indiretos, poderão participar em igualdade de condições (nas regras) com atletas sem aparato tecnológico?

Como saber se um atleta está municiado com alguma prótese especial, muitas vezes minúscula, ou com inteligência artificial? Será necessário, além do teste de doping tradicional, fazer testes para verificar se há tecnologia sustentando resultados melhores em detrimento do espírito esportivo?

Há que se pensar que assim como na sociedade como um todo, se nada for refletido e discutido, a tecnologia poderá aumentar o abismo entre pobres e ricos, o mesmo acontecerá no esporte, com países ricos se distanciando ainda mais do que hoje dos países pobres.

Notícias no celular

Whatsapp

Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.