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O diálogo morreu: a chatice dos Bozo Nove Dedos e o fator emburrecimento da polarização

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

14/01/2025 - 10:01 - Atualizada em: 14/01/2025 - 15:09

♫ “We don’t need no education/ We don’t need no thought control/ No dark sarcasm in the classroom/ Teacher, leave them kids alone/ Hey! Teacher! Leave them kids alone!”♫ (Another brick in the wall (Pt. 2); Pink Floyd)

Conversar, salvo algumas exceções, está uma chatice sem tamanho. Hoje em dia são raras as pessoas que não levam qualquer conversa, séria ou não, para a seara política polarizada, extremada e radicalizada, com o perdão das redundâncias.

Não demora muito, em quase qualquer bate-papo, para que alguém saia com um “deve ser eleitor do bozo” ou “deve ser eleitor do nove dedos”, ainda que a pessoa não tenha a mínima ideia das convicções, políticas ou não, do interlocutor, até porque está cada vez mais comum essas frases serem utilizada fora de qualquer contexto político da conversa. Basta, tão somente, que a vítima do ataque não concorde com o que o birrento político fala. E claro que esse comentário vem com um grave ar de pernosticismo misturado com deboche. O cidadão se acha superior porque seu político de estimação é outro (repito, mesmo que não saiba qual é a preferência política do seu interlocutor).

O pragmatismo acéfalo

Ouse, o cidadão despretensioso, ir a algum evento familiar ou de amigos com uma camisa da seleção brasileira ou com um tênis vermelho. Não interessa se o manto ou o calçado foram comprados antes dessa loucura toda. Corre o risco de ser chamado de fascista, no primeiro caso, e de comunista, no segundo.

Esquecem-se que vivemos num mundo apaixonado por futebol e que todos temos sangue vermelho. E quanta baboseira está-se a ver todos os dias por causa destas idiotices de apropriações indébitas das cores, e de slogans e de raciocínios burros e torpes.

O diálogo morreu.

Está cada vez mais difícil dialogar, quanto mais argumentar. Assim como dar informação correta e de qualidade custa (tempo e dinheiro), procurá-la não é diferente (o cidadão que se preze a isso tem que dispor do seu tempo, comparar, refletir – conhecimento dói, às vezes estafa, e no mundo dos 140 caracteres, poucos se dão a tanto trabalho, afinal, o grupo da sua bolha do WhatsApp já tem todas as respostas corretas).

Os radicais e pseudorradicais esqueceram que entre os bandos do bozo e os bandos há um universo de alternativas políticas e sociais que (ainda) não se entregaram ao radicalismo insensato e sem fundamento.

O emburrecimento coletivo

E, lamentavelmente, por conta dessa radicalização da polarização, todo mundo passou a ter opinião sobre tudo. Não interessa se a pessoa não estudou e nunca ouviu falar disso ou daquilo, ou se um doutor de verdade no assunto fala diferente.

Se o seu político de estimação – que, muito provavelmente sabe tanto quanto uma porta – diz que é, é porque é. Também não faz mal se até anteontem o cidadão tinha certeza, porque estudou isso na escola, que aquilo é assim. Se a sua bolha de amigos bitolados diz, pois assim falou o seu político, passa a ser diferente. Dane-se a escola, danem-se os professores, danem-se os estudiosos.

Virou um nós contra eles irracional e contínuo e fomentado por ambos os lados do radicalismo.

Quem mais perde com isso? A verdade científica. Agora, com as redes sociais, há milhões de pessoas de cada lado achando que sua versão é mais importante e válida do que aquela dos experts que realmente estudam o assunto há anos ou décadas. E, por via de consequência, a humanidade.

Infelizmente, 2025 não promete ser o ano da redenção do conhecimento. Do jeito que a coisa está indo, no último dia desse ano estaremos mais burros do que hoje…

Em tempo: se alguém teve alguma dúvida, a música tema do texto de hoje foi escolhida pelo sarcasmo e preocupação que traz consigo.

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.