Dia desses, me lembrei daquele jovem que vi andando às margens da BR-280 com uma mochila nas costas, bem perto do posto da Polícia Rodoviária Federal, em Guaramirim. Quem poderia prever o futuro dele, naquele momento?… Vestia calça jeans, camiseta e tênis, tinha cabelos negros e olhos castanhos. O calor repentino e uma rápida olhadela para o céu mostravam que o tempo poderia virar a qualquer momento.
Suando e com sede, o jovem pediu informações aos patrulheiros da PRF. Na mochila, carregava a experiência como mecânico, e muita determinação.
– Boa tarde! Meu nome é Josemiro Otávio de Souza. Aqui está a minha identidade… Venho de carona desde Curitiba em direção a Jaraguá do Sul. Me disseram que fica perto daqui…
O caroneiro foi orientado a se dirigir até a parada mais próxima e pegar o ônibus de linha até Jaraguá. Durante o trajeto, se surpreendeu com o grande número de veículos, a pressa dos pedestres, a modernidade dos prédios…
– Quanta prosperidade! Aqui realmente é o vale fértil!
Se encheu de esperança, sem se importar com as nuvens assustadoras que se formavam.
– É aqui que vou trabalhar e prosperar!, dizia para si mesmo. Ao descer no terminal urbano, a chuva começou a cair forte, e ele achou melhor procurar depois um lugar para se hospedar. Trabalhadores, estudantes, donas de casa e desocupados dividiam o mesmo espaço coberto, sentados nos bancos de madeira, enquanto esperavam a tempestade passar. Um idoso, que estava sentado ao lado do jovem, sorriu e puxou conversa.
– Você não é daqui!… Veio procurar emprego, né?, perguntou.
– Sim, como o senhor sabe?!…
– Todo dia chegam pessoas como você por aqui! Pensam que Jaraguá é o Eldorado, que vão ficar ricos! Alguns até ficam, mas a que custo! Quanto sacrifício!, desabafou, com ar de tristeza.
– Por que o senhor diz isso?!, perguntou o recém-chegado.
– Porque já vi muita gente sacrificar a vida pessoal, deixar a família de lado para trabalhar, trabalhar, acumular patrimônio… Só pensam nisso! Já vi amigos morrerem de enfarte, derrame e todo o tipo de doença porque nunca tinham tempo para si mesmos. Meu filho, não cometa esse erro, porque há coisas que dinheiro não pode comprar!
Aquele jovem baixou a cabeça e ficou pensando, atônito. Quando se virou para continuar a conversa, viu que o homem tinha sumido… A chuva parou e Otávio foi finalmente conhecer a cidade.
– Amanhã mesmo vou procurar emprego!, decidiu. Então lembrou das palavras do homem misterioso…
-Ah, deixa pra lá! Ainda sou muito novo pra me preocupar com essas coisas!, pensou. Foi caminhar pelo Calçadão e pelas ruas centrais, encantado com tudo o que via…