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O banheiro do futuro, os hipocondríacos e Harari

Foto: Alexandre Schneider/Getty Images

Por: Raphael Rocha Lopes

14/05/2024 - 11:05 - Atualizada em: 15/05/2024 - 11:14

 

“♫ Tomo um banho de lua, fico branca como a neve/ Se o luar é meu amigo, censurar ninguém se atreve/ É tão bom sonhar contigo, oh! Luar tão cândido” (Banho de lua; Celly Campelo).

Há pouco mais de dois anos saiu uma matéria no Wall Street Journal sobre o banheiro do futuro. Naquela época o tal banheiro ainda era protótipo e, daquele jeito, ainda não tem disponibilidade no mercado. Era o Wellness Toilet Concept, ou Conceito de Banheiro do Bem-estar (ou alguma coisa mais ou menos assim).

Você, com esse banheiro, terá (quase) todas as informações para sua saúde sem sair de casa. Algo que nem a família Jetsons tinha (eu não lembro, pelo menos, até porque seria muito escatológico para a época).

Restos de pele e dejetos fecais

No banheiro, com base nos restos de pele, que toda pessoa deixa por onde passa, e nos restos fecais (presumivelmente no super vaso sanitário), as informações já irão para alguma espécie de centro de dados online de algum laboratório. E lá os exames serão realizados e encaminhados para o dono do banheiro (e do cocô). A coleta das informações será por sensores.

Esse vaso supertecnológico vai rastrear e analisar o estado físico e mental da pessoa, e fornecer recomendações para melhorar seu bem-estar pelo smartphone, inclusive sobre sua alimentação. Não sei se isso tranquilizará ou “trancará” a pessoa na hora agá.

Claro que há opções mais, digamos, prosaicas, como o bidê inteligente que faz toda a higiene com “água tratada em temperatura agradável”, – como diz um dos anúncios publicitário – secador e desodorizador, com controle remoto e memória de preferências para até quatro usuários!

Também não deve estar longe o chuveiro que não só lava por fora, mas já analisa e trata doenças de diversas naturezas com suas águas, luzes ou raios especiais. Talvez até rejuvenescedor. Isso se já não houver a opção de harmonização facial ou aplicação de botox.

Todos esses equipamentos e tecnologias devem ser bálsamo para os hipocondríacos de plantão, que, às vezes (ou quase sempre), parecem procurar doenças (inexistentes) para tomar seu santo remédio de todos os dias, sejam eles placebos ou não. Ou, talvez, sejam gatilhos para a criação de uma nova geração de hipocondríacos, preocupados diariamente em descobrir se seus organismos estão perfeitos ou o que podem atacar medicinalmente.

Será, possivelmente, a consolidação tecnológica do velho ditado “quem procura, acha”.

Harari

Yuval Noah Harari é um professor de história e autor de alguns livros de bastante sucesso mundial. Ele fala e reflete muito sobre a história e o futuro da humanidade com os impactos da revolução tecnológica. Em alguns de seus textos e entrevistas ele fala sobre o aumento do abismo social entre ricos e pobres com o progresso da tecnologia.

Essa “evolução” dos banheiros parece-me a confirmação da teoria de Harari.

Se voltarmos alguns séculos, os mais ricos faziam suas necessidades em algum buraco na torre do castelo, ou, quando muito, em algum balde para os serviçais jogarem pelas janelas (sem vidros) do castelo, enquanto os muito pobres faziam em algum buraco ou riacho no fundo de seus casebres.

Hoje, os muito pobres continuam fazendo no lugar de sempre. Os muito (muito mais do que séculos atrás) ricos fazem em privadas que custam cem mil dólares!

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.