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Não é política. É um desabafo sobre o que estamos ensinando

Por: Antídio Aleixo Lunelli

01/11/2025 - 07:11 - Atualizada em: 30/10/2025 - 11:06

Nos últimos anos, tenho falado muito sobre gestão, competitividade e desenvolvimento. Mas hoje, peço licença: este texto não é sobre política. É um desabafo. Um desabafo de pai, de avô, de empresário e de cidadão preocupado com o rumo que a nossa sociedade está tomando.

Vivemos uma crise de valores perigosa. Quando o ser humano deixa de valorizar o que é essencial — o respeito, a família, a fé, a escola, a palavra dada — ele se perde. E, quando isso acontece em larga escala, uma nação inteira pode se perder junto.

Um estudo global sobre confiança, o Edelman Trust Barometer 2025, detalha esse cenário preocupante: as pessoas estão cada vez mais descrentes das instituições, da mídia, da política e até umas das outras. A confiança, que é o alicerce da convivência, está em frangalhos. Sem confiança, não há cooperação. E sem cooperação, não há futuro comum. Eu sempre fui de confiar nas pessoas — e, sim, às vezes quebrei a cara —, mas prefiro continuar acreditando nelas. Continuar tendo fé.

Essa perda de confiança que enfrentamos como sociedade também chega à sala de aula. A escola, que deveria ser o coração da formação moral e cívica, sofre os reflexos dessa crise. Segundo o PISA 2022, 73% dos estudantes brasileiros não atingiram o nível básico de proficiência em matemática. E, conforme dados do Ministério da Educação e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, crescem os casos de violência nas escolas. Professores ameaçados, alunos desmotivados, famílias ausentes. Não há aprendizado onde há medo. E não há futuro sem o básico: respeito, disciplina e propósito.

Ao mesmo tempo, vemos uma geração cada vez mais conectada, mas nem sempre bem orientada. A tecnologia é uma ferramenta extraordinária, que aproxima e facilita a vida. Mas também virou a principal companhia — e, em muitos casos, a principal educadora — das nossas crianças. A pesquisa TIC Kids Online Brasil mostra que 88% das crianças acessam vídeos online, 78% usam o WhatsApp e mais da metade está nas redes sociais. Quase um terço já sofreu algum tipo de ofensa na internet. Não é só sobre tempo de tela. É sobre exemplo, diálogo e limites. Quando terceirizamos a formação moral para o algoritmo, abrimos mão de ensinar o que nenhuma tecnologia entrega: caráter.

Outro pilar essencial é a fé. Não falo aqui de religião como palanque, mas como fonte de sentido e comunidade. O Censo 2022 do IBGE revelou mudanças no mapa da fé: o número de católicos caiu para 56,7%, enquanto os evangélicos cresceram para 26,9%. Independentemente da crença, isso mostra que o ser humano continua buscando pertencimento e propósito. A fé — qualquer que seja a religião — ajuda a reconstruir o tecido social, fortalece famílias e ensina solidariedade.

Não há soluções fáceis, mas há caminhos claros. O primeiro é o respeito — discordar sem ofender, conviver com quem pensa diferente. Depois vem a família, que precisa estar presente, com tempo de qualidade, diálogo e exemplo. A escola deve ser valorizada, com professores respeitados e pais participando. As entidades e comunidades locais — clubes, associações, igrejas, ONGs — também têm um papel vital: reforçam o sentido de pertencimento e o compromisso com o outro. E, acima de tudo, precisamos resgatar o valor da palavra cumprida, porque caráter ainda é o primeiro currículo.

Não escrevo este artigo para apontar culpados, mas para fazer um convite: olhemos no espelho. A crise que enfrentamos não é apenas econômica ou política — é uma crise de sentido. E ela só se vence com exemplo, começando dentro de casa, nas pequenas atitudes do dia a dia.

Se cada um de nós der um passo — pais, professores, líderes comunitários, comunicadores, servidores públicos —, a política virá atrás. O contrário não funciona. Que a gente volte a ensinar, com a vida, aquilo que nenhum aplicativo, escola ou governo consegue substituir: o valor da palavra, do respeito e do caráter.

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Antídio Aleixo Lunelli

Antídio Aleixo Lunelli é deputado estadual pelo MDB. Fundador do grupo Lunelli, foi prefeito de Jaraguá do Sul.