Morrendo mais cedo e mais burros

Por: Raphael Rocha Lopes

25/06/2024 - 09:06 - Atualizada em: 25/06/2024 - 16:33

“♫ Não saco nada de Física/ Literatura ou Gramática/ Só gosto de Educação Sexual/ E eu odeio Química” (Química; Legião Urbana).

Acredito que ninguém discorde. Ou quase ninguém, porque sempre há alguns do contra. Mas me parece, com respeito aos do contra, muito lógico e claro que a vida hoje está muito melhor do que há 50, 100, 200, 500 ou 1000 anos.

Não ter que lutar pela comida, não ser buscado dentro de casa para guerras na base do machado e do mangual, ter água encanada, televisão, internet, geladeira e um mercado perto de casa, dão muito mais tranquilidade para o ser humano, concordam?

Por conta disso, ao longo da história, as gerações seguintes estavam vivendo mais e melhor, e acumulando conhecimento. Tecnicamente, na média, os filhos sempre superaram os pais no quesito inteligência, nos seus mais diversos e complexos aspectos.

Até agora!

Correndo o risco de viverem menos…

Pesquisas vem apontando um indicador assustador. E não é de hoje.

Desde 2017 já se vê notícias frequentes da possível geração que vai viver menos que a de seus pais por não saber comer, ou por excesso de comida. Qual geração? A atual. O exagero de produtos processados e ultraprocessados, e de pós brancos (farinha, açúcar, sal), e, por outro lado, uma certa aversão a alimentos naturais, especialmente frutas e legumes, está trazendo um prognóstico nada animador.

Tem adolescente que não sabe distinguir um brócolis de uma manga. Mas, provavelmente, conhece todas as marcas de salgadinhos e outras guloseimas ou porcarias que há por aí.

Mas atenção: não é uma questão de discriminação. Para muitos pais, infelizmente, um pacote de biscoito e um de suco em pó é tudo o que podem dar para seus filhos, pois, apesar de tanta isenção tributária, os produtos naturais ainda são mais caros.

… e de morrerem mais burros.

A tecnologia que traz facilidades para o seu dia a dia, que permite que você peça um lanche pelo celular enquanto assiste a um filme pelo streaming da TV é mesma que está emburrecendo, de alguma forma, seus filhos.

E são muitos fatores. O excesso de informação faz com que as pessoas, especialmente as crianças e os adolescentes que já nasceram nesse mar, não consigam assimilar conhecimento. Parece contraditório, mas é o que está acontecendo. As pessoas estão cada vez mais desacostumadas a diferenciar a informação do conhecimento.

Em muitos casos, esses excessos estão levando adultos, principalmente os mais velhos, a uma dissonância cognitiva grave. Suas atitudes não são mais coerentes com o que pensam ou mesmo com o que defenderam uma vida toda. A manipulação das informações e fake news nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens é um dos fatores para o crescimento dessa forma de manifestação que é estudada desde os anos 50. Falta de leitura, reflexão e, principalmente, contemplação, são, para mim, outros fatores determinantes.

De todo modo, pesquisas têm apontado que a geração atual, por não saber utilizar a tecnologia, especialmente a internet, têm seu desenvolvimento intelectual atrapalhado e, consequentemente, menos QI que a anterior, pela primeira vez na história.

É assustador. E, diferentemente da música tema de hoje, essa geração parece também não gostar muito de sexo, sejam da autodenominada turma dos incel ou não.

Mas talvez haja uma vantagem se essas estatísticas todas estiverem corretas…

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.