Você sabia que o bilionário Elon Musk, dono da Tesla, SpaceX e do X (antigo Twitter), tem interesse em influenciar a eleição da prefeitura de Cascavel, no Paraná? E também em interferir nas eleições deste ano em Pelotas, no Rio Grande do Sul? E que ele está se coçando de ansiedade para ditar os rumos da escolha do prefeito de Taubaté, em São Paulo? Parece loucura, não é? Mas não: isso foi literalmente o que disse a “jornalista” Daniela Lima ao vivo, na GloboNews, nesta segunda-feira (19): que o interesse de Elon Musk é influenciar nas eleições municipais do Brasil em 2024.
O contexto da fala de Daniela Lima é o seguinte: ela trouxe uma “apuração” do que ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) pensavam sobre a decisão de Elon Musk, anunciada no último sábado (17), de fechar o escritório do X no Brasil. Elon Musk justificou a decisão dizendo que foi forçado a isso por conta de decisões ilegais do ministro Alexandre de Moraes, que ameaçou prender funcionários do X caso a empresa não obedecesse às ordens abusivas do ministro. A versão de Elon Musk não é papo-furado. Está demonstrada por documentos.
Musk preferiu fechar o escritório da empresa no Brasil do que entregar seus funcionários para os jagunços de Alexandre de Moraes, o qual, com certeza, já deve estar preparando uma decisão para banir de vez a empresa do território brasileiro. Isso colocará o nosso país no seleto clube de “democracias avançadas” que proíbem o X, ao lado de Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Mianmar, Nigéria e Turcomenistão. Isso já dá um forte indicativo de quem está certo e quem está errado na história.
A jornalista poderia ter feito uma análise profunda dos acontecimentos que revelam abusos de Moraes, inclusive a partir das revelações escabrosas recentes da Folha de S. Paulo, mas não. Daniela Lima preferiu ficar em silêncio sobre o escândalo da Vaza Toga e desempenhar novamente o papel de garganta de aluguel dos ministros do TSE e do STF. Ela disse: “o que há é uma tentativa deliberada de se criar um ambiente de influência nas eleições brasileiras”. Hã? A gente tem que parar tudo para escutar isso, afinal, é uma acusação gravíssima. Contudo, Daniela não apresentou uma prova do que disse nem explicou melhor seu comentário.
A fala virou imediatamente piada nas redes sociais. Internautas debocharam: “Sim, Elon Musk quer influenciar as eleições para vereador e prefeito e poder nomear várias ruas e praças de São Gonçalo e Araraquara”, disse um. “Claro. Elon precisa muito da prefeitura de Nazaré das Farinhas”, disse outro. “Sim, o Elon Musk tá louco para conseguir eleger seu candidato aqui em Xique-Xique na Bahia…”, completou mais uma internauta.
Mais do que piada, a fala se tornou um verdadeiro meme, evidenciando mais uma vez o descrédito do jornalismo de acesso que se tornou a marca registrada de Daniela Lima. A “jornalista” dedica suas horas na GloboNews a repassar como se fossem verdades absolutas, de celular na mão e balançando na frente das câmeras, a visão de “fontes” em Brasília, geralmente ministros das Cortes Superiores que opinam sobre tudo.
Em vez de analisar se o que a autoridade lhe disse procede ou não, Daniela prefere simplesmente emprestar seu megafone para suas fontes poderosas dizerem o que querem sem filtro em rede nacional. É claro: isso garante que ela siga sendo privilegiada pelas fontes no repasse das informações. Ganham as fontes que têm suas visões sacramentadas para uma grande audiência, a emissora de televisão que consegue furos ao vivo, e a jornalista que valoriza o seu passe. Perdem a sociedade e a informação de qualidade.
Esta última barrigada de Daniela foi tão absurda que ela mesma reconheceu isso, ao continuar a sua fala dizendo: “Ah, Daniela, isso é teoria da conspiração”. Se a própria “jornalista” confessa que sua “apuração” pode ser considerada uma teoria da conspiração, que credibilidade tem aquela informação? Em vez de oferecer provas do que falou, Daniela Lima inverteu o jogo e lançou o ônus de apurar, que deveria ser dela, para a audiência, dizendo com toda a pompa: “Pesquise sobre o papel das redes sociais no Brexit”.
A que ponto chegou o jornalismo profissional no Brasil?