Diz o ditado popular que ciúme de homem não tem cura. Ainda mais quando os personagens atuam na atividade política. Muitos observadores da cena política estadual andavam estranhando, em conversas reservadas, a má vontade do PSD e de seu comando catarinense em relação ao governo Jorginho Mello.
O atual presidente é um preposto daquele que efetivamente controla o partido. Essa má vontade seria gerada por qual motivo? Por que o governador não teria contemplado o partido com cargos e outras coisitas?
O PSD não pode assumir uma secretaria a partir do momento que se apresenta como uma bancada independente na Alesc. Nos bastidores, contudo, pessedistas de alto coturno atuam dia e noite para tentar minar a gestão atual.
Essa “independência” ficou escancarada quando o deputado Ricardo Guidi assumiu a Secretaria de Meio Ambiente e Economia Verde. O parlamentar teve que deixar isso claro e declarar que sua participação era puramente pessoal e não partidária.
Só o bônus Nesse caso de Guidi, independência. Mas a cúpula queria sim uns carguinhos para contemplar os deputados. Na surdina, na escuridão, obviamente. Também houve outras pedidas, não lá muito republicanas e que se constituem numa tradição histórica de figuras carimbadas e manjadíssimas do PSD. Personagens acostumados a costurar nos subterrâneos da gestão pública. Sempre de olho em contratos, licitações e por aí vai.
Lembrar é viver Aliás, figuras proeminentes do PSD-SC, esta partido tão estrelado, já estiveram em maus lençóis. Tendo inclusive que conviver por longa data com alguns adereços depois de prisões. Detenções que foram domiciliares em função da pandemia.
Novo round Figuras que escaparam da primeira ofensiva da Justiça e do MPF, mas já há outra investigação em curso.
Modus operandi
Esse pessoal é especialista em manobrar licitações e contratos superfaturados. A fonte secou lá no governo Moisés e o atual governo não deu o mínimo espaço para estas falcatruas. Reside aí a verdadeira contrariedade do comando pessedista em Santa Catarina.
Extra Queriam, claro, as boquinhas, os carguinhos, mas seguem afirmando a sua “independência.” Trata-se do partido mais hipócrita do Brasil e de Santa Catarina.
Proximidade Mas tem uma situação adicional que amplia o descontentamento de pessedistas com Jorginho Mello. É que o governador tem conversado com uma certa frequência com Gelson Merisio, que já foi parceiro da dupla que pilota o PSD-SC. O preposto e seu criador.
Trajetória Merisio deu aquele cavalo de pau até hoje inexplicável, saindo do PSD e após uma passagem relâmpago pelo PSDB acabando no Solidariedade. Na esquerda foi um dos articuladores da chapa liderada por Décio Lima em 2022.
Progressista Agora estaria Merisio ajudando o PP e, portanto, voltando à sua origem, e trabalhando para que o partido volte a ganhar musculatura.
Desconfiado Como Jorginho Mello sempre tem um pé atrás com o senador Esperidião Amin, Merisio poderia atuar como um fiador para o PP estar no projeto de reeleição do governador em 2026.
Tríplice aliança O objetivo de Jorginho é atrair o MDB e o PP, isolando o PSD, que terá que se contentar com um PSDB caindo pelas tabelas e de um partido natimorto que é o União Brasil.
Na moleira O que ocorre é que a turma do PSD também está incomodada com essa aproximação entre o governador e Merisio. Publicamente atribuem a outras situações, naturalmente.
Ágape Entre o primeiro turno e o segundo do pleito de 2022, Gelson Merisio, que articulou a candidatura de Décio Lima, declinando de ser o vice do petista, promoveu um jantar em sua casa. Ali, reuniu o próprio Décio e Jorginho Mello.
Certeiro Merisio, acertadamente, sugeriu aos comensais que a campanha de segundo turno fosse limpa, sem ataques. O petista já sabia que não teria chances de chegar. Nessa toada, advertiu Merisio, o armistício ajudaria Lula da Silva e Jorginho navegaria tranquilamente rumo ao governo.
Oráculo Os dois catarinenses se respeitaram, não polemizaram durante o round fatal do pleito do ano passado. Ao fim e ao cabo, aquilo que formulou Merisio virou realidade. Jorginho aqui e Lula lá.