He-Man e os Coaches do Universo

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

30/07/2024 - 13:07 - Atualizada em: 30/07/2024 - 16:12

“♫ Eu tenho a força/ Sou invencível/ Vamos, amigos/ Unidos venceremos a Semente do Mal” (He-Man; Trem da Alegria).

Dia desses apareceu no meu Instagram uma daquelas publicações aleatórias, provavelmente curtida por alguém que sigo ou que me segue. Era o He-Man, icônico super-herói do início dos anos 80, falando o seguinte: “Oi, amigos! Hoje quero dar para vocês três dicas de como ficar rico…”

Antes de continuar, é importante esclarecer uma coisa para quem não é da minha época e não sabe que, ao final de cada episódio do desenho animado (He-Man e os Mestres do Universo), ele dava uma dica ou conselho sério para as crianças. Coisas como “A cooperação entre amigos facilita o trabalho” ou “Cuidado com a segurança; não se arrisquem atravessando uma rua” ou “Vingança não vale a pena porque ninguém vai ficar satisfeito, afinal”.

Mas depois de ler tudo isso, não sei se vocês tiveram a mesma sensação, mas o He-Man foi o primeiro coach dessa geração.

Coaches?

O brasileiro e sua mania de encher de expressões da língua inglesa as conversas (às vezes fazendo umas misturas absurdas como “case de sucesso” ou “vamos startar”), incutiu na mente de muita gente a palavra coach. Se for procurar em algum dicionário clássico, coach nada mais é do que treinador.

Agora, porém, tem uma conotação mais, digamos, inspiradora: é uma espécie de mentor, ou, para alguns coaches, muito mais do que isso. Alguns deles se acham semideuses, não importa se fazem sucesso só na internet ou se levam um bando de desavisados para “um desafio de alta performance” em algum cume qualquer de madrugada colocando a vida de todo mundo em risco.

Na esteira da palavra coach vieram coaching (o processo em si) e coachee (o cliente atendido pelo coach) e com a internet uma enxurrada de coaches vendendo todo tipo de coaching para potenciais coachees. O Mentor, da turma dos Mestres do Universo, provavelmente está desapontado.

O joio e o trigo

Com tantos CEOs e Ci-qualquercoisa-Ôu, heads disso e daquilo, é quase natural que coach tenda a fazer sucesso. Hoje no LinkedIn, entre brasileiros, se vê mais Ci-qualquercoisa-Ôu do que diretores, heads do que gerentes, founders e co-founders do que fundadores. Não importa se trabalha numa multinacional ou se é um MEI.

A internet, por meio das redes sociais e dos anúncios impulsionados (pagos), oferecem todo tipo de coach para todo tipo de carreira. Separar o joio do trigo é que é difícil. Outro dia um amigo disse que foi numa imersão (outra palavrinha da moda) cara (bem cara, eu diria) de uns coaches que diziam o quanto é fácil vender e ganhar muito dinheiro com isso. Segundo meu amigo, fórmulas mágicas e, por serem mágicas, tinham muito de pirlimpimpim. Muitos desses coaches são realmente descolados. Descolados da realidade dos empreendedores sofredores do Brasil.

Mas, claro, há gente muito boa no mercado. Em número bem menor do que se vê nos anúncios da internet, claro. E, muitos deles já relegaram a autodenominação de coach, talvez pela prostituição da profissão. Tem até um vídeo muito engraçado do Porta dos Fundos sobre coaches. Vale a pena ver para descontrair um pouco. Metas, óleo de coco e mindset…

E não esquece da lição do He-Man que começou esse texto: “Oi, amigos! Hoje quero dar para vocês três dicas de como ficar rico…” três segundos depois, o He-Man continua… “… ficou esperando, é? Por isso que é pobre!”.

Até a próxima para mais dicas para sucesso na carreira!

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.