Guinadas

Por: OCP News Jaraguá do Sul

04/06/2016 - 04:06

Na vida de todos existem guinadas, marcas. Momentos que passamos a perceber o mundo, a vida, de outra forma.

Para algumas pessoas, foi a Queda do Muro, o Plano Real, a renúncia do Collor, para outros a separação de Sandy e Júnior, a extinção dos Backstreet Boys, o fim do Viva a Noite com o Gugu, Topa Tudo Por Dinheiro, com o Silvio.

Para mim, sem dúvida, foi quando o pãozinho parou de ser vendido por unidade e passou a ser comercializado a quilo. Era um absurdo. Num dia estou lá, comprando francês por unidade, amendoim salgado e doce (preto e colorido) na medida de copinho de cachaça e, de repente, chega! Para com isso. Não é assim. É por peso. Pacote fechado.

O mundo começou a ter outra cara. Uma cara industrializada. Um jeito que algumas vezes parecia ser a redenção e noutras assustava. Lembro muito bem da vez que apareceu uma caixinha de leite longa vida lá em casa. Alguém colocou na mesa e disse: “Dura um mês!”. Meus amigos, a gente parecia tupiniquim vendo espelho pela primeira vez. Como era possível um leite não azedar em um, dois dias?

Eu fiquei tão feliz com aquela novidade. Afinal, era o incumbido de buscar leite todo santo dia. E sei bem quantas vezes deixei o pacotinho escorregar e espatifar no caminho. Aí, camarada, voltava para casa chorando, por que a Havaianas, muito provavelmente, ia estalar. Conselho Tutelar era borracha azul ou preta no lombo.

Agora, o pão tinha me assustado, (olha a ignorância da criança) eu também era o responsável por buscar pão. E, quando soube que o francês seria vendido por peso, eu pensei assim: “Mas como eu vou saber ‘quantos quilos’ de pão tenho que pedir pra acertar a quantia que eles me mandaram comprar” (risos e vergonha). Nem me liguei que poderia continuar pedindo por unidade. Se fosse nos dias atuais, as crianças diriam assim: “Que burro, baixa um aplicativo que converte a quantidade”. Ah, aliás, nos dias de hoje, eu acho que os pais não mandam crianças buscar pão. E acho que o Conselho Tutelar nem permite. E, se permite, essa meninada se nega a ir.

Para boa parte dessa molecada, a grande guinada foi ter wi-fi grátis na van da escola.

Curioso que muitos nem lembram que existiu celular antes do Smartphone, não sabem o que foi Orkut e nunca, em hipótese alguma, ouviram falar em ICQ. Alguns, provavelmente, não se conformam como não existe um aplicativo que diga qual a quantidade exata de pão deve ser comprada e, mais ainda, não entendem como um texto desse é escrito por um homem, e não por um programa de computador. Isso, sem falar na medida de amendoim no copinho de cachaça.