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Gritos silenciosos: o que a série “Adolescência” nos revela sobre a “presença ausente” na educação dos adolescentes?

Foto: Divulgação/Netflix

Por: OCP News Jaraguá do Sul

29/03/2025 - 06:03

Por Nelson Pereira

Integrante do Comitê Editorial da Rede OCP de Comunicação e escritor

 

Ao assistir a recém-lançada, e aclamada, minissérie “Adolescência” da Netflix, me vi em meio a uma grande fissura geracional. Esse drama ficção, que de tão real em nosso tempo, deixa de ser ficção ao mostrar, de fato, a dimensão dessa fissura. O verídico drama é que nossa adulta ignorância digital está criando adolescentes sozinhos dentro de casa. Então, me auto indago: quantos de nós, adultos, realmente entendemos o que se passa na cabeça desses jovens?

A série escancara o abismo entre gerações, mas, a tragédia existencial não está na tela, senão, na nossa incapacidade de decifrar, se aproximar e educar, essa geração ‘isoladamente hiperconectada’. A “presença ausente” dos pais é um fantasma que assombra o filme e retrata, com impressionante realismo e brilhante atuação dos protagonistas, essa perturbadora fissura.

Estamos em casa, mas hipnotizados em telas, ignorando o comportamento e os códigos que nossos filhos dominam. Por múltiplos canais, eles falam em emojis, gírias cifradas, códigos, imagens e memes que carregam dor, ironia, bullying ou desespero.

Enquanto isso, o mais profundo que nós adultos chegamos, é no superficial WhatsApp, repetindo chavões como “no meu tempo era melhor”, “no meu tempo não tinha bullying”, no meu tempo isso, no meu tempo aquilo”, sem perceber que essa nostalgia só nos afasta deles. A misoginia, disfarçada de “brincadeira” em grupos digitais, e a sexualização precoce mostradas na série não são ficção, mas, frutos da nossa omissão na educação midiática.

O ambiente da escola também não é ficção, mas, o fiel retrato da realidade. Não basta proibir o celular, é preciso decifrar as redes com eles, desmontar a lógica tóxica dos algoritmos que os ensina a odiar corpos, a glorificar a violência, a confundir likes com afeto. Me veio à mente, então, a figura dos avós nesse sombrio cenário. Penso que é chegado o momento de eles abandonarem o restrito papel de ‘refúgios afetivos’. Por conta da vida atribulada dos pais, os avós precisam ajudar a reduzir essa fissura educacional.

A mensagem essencial da minissérie “Adolescência” é um soco no estômago: ou buscamos nos atualizar como educadores, ou seremos espectadores passivos do colapso emocional das próximas gerações. O desafio não é controlar, proibir ou ameaçar, mas, compreender. Não é julgar, mas, dialogar. E inadiavelmente, antes que a tela venha a ser o único espelho a eles disponível.

 

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Publicação da Rede OCP de Comunicação