Frescor primaveril

Foto: Svetlana Sokolova / Freepik

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

26/09/2023 - 09:09 - Atualizada em: 26/09/2023 - 09:45

Ana Kelly Brustolin

Lá fora o bater das asas do beija-flor pousado à flor já pode ser ouvido… Seu som vibrante, alerta a visão e alegra o coração, avivando o amanhecer. O estímulo colorido da manhã, unido ao sol que ilumina o quarto pela fresta da janela renovam-na.

O novo dia raiou! A primavera chegou. E está para o crescimento, florescimento e harmonia, como a jovem Ostara está para o novo dia. É tempo de observar os animais polinizadores, que aumentam suas atividades, e fazem crescer o ciclo reprodutivo dos vegetais.

A artesã e pintora suaviza sua face, com um largo sorriso, a fim de agradecer o momento presente, marcado por dias mais quentes, pelo desabrochar de flores coloridas e uma vibração muito positiva. Ela saúda o Sol e sabe que poderá aproveitá-lo sem passar tanto calor, com certo frescor.

Suas amigas; Rita, também artista, e Deméter, agrônoma, chegam contentes e lhe chamam com um “bom dia”. Ostara valoriza as amizades, pois compreende que amigos são como sementes regadas na raiz. Com os amigos entendemos que estar presente é imperioso; um na vida do outro, já que o tempo é precioso e cada instante deve ser vivido intensamente, porque valem mais que o ouro.

Ostara amarra suas madeixas com um lenço colorido, veste seu avental – todo de flor, por sinal! – ela sabe que para trajar o avental e viver somente da sua arte tem de fazer bem a sua parte, pois, neste mundo, em geral, o valor está no “numeral”. Mas, quem é “artista ou arteiro” sabe que o processo é o pioneiro. Nele, se vivencia, a harmoniosa toada de viver conforme a empreitada, é preciso saber esperar no momento certo e soltar a criatividade no instante aberto. Ostara, Rita e Deméter, de mãos dadas prosseguem, rumo aos afazeres, sem permitir que as coisas mundanas as ceguem.

Já são 19 horas no relógio da sala. O anoitecer aparece, e a lua, num clarão, no céu, comparece.

O fluxo das estações e as fases da lua afetam a vida no campo, o nosso ânimo e as mudanças no tempo. Então, as três amigas, sentadas na sacada, escutam o sereno a zunir, tomam um chá de alecrim… E papeiam… Sem receio.

Refletem sobre os quatro ciclos das estações que indicam pontos de mudança da energia da natureza – fora e dentro da gente, carregados de sutilezas. Contudo, na frenética rotina urbana, tais movimentos desta força sutil, geralmente, não despercebidos, com consciência volátil.

Ostara diz às amigas:

– Estamos na estação na qual precisamos regar nossos jardins e plantar sementes para o nosso processo de renascimento! Durante esse período, convido vocês a nos integrarmos de corpo e mente à “Mãe Terra”, que, anualmente, renova seu ciclo de (re)nascimento.

Rita pontua:

– Claro, afinal, a primavera, ocasião de iluminação, nos inspira a buscar um significado para a vida.

Deméter sorri e fala:

– Isso mesmo! Vamos cultivar luz e força interior, bem como o fluir para o nosso caminhar, já que, assim como na minha ocupação profissional, cada dia é uma nova oportunidade de produzirmos sementes, afinal!

Ostara consente:

– As sementes estão sendo preparadas agora. Não há como fugirmos às consequências de nossas ações. Assim é a vida, cada escolha que fazemos nos levam a um caminho, mesmo as que aparentam não ter tanta importância. Desenvolver essa percepção nos ajuda a tomar decisões mais sensatas, com base na reflexão e ação. A propósito, quando reconhecemos a realidade pelo que ela é, podemos trabalhar juntos para criar um futuro melhor aos envolvidos.

Já é noite e hora de dormir…

Lá fora, agora, chove e dentro de Ostara as águas se movem, espantando as mágoas para florir a fecunda e deslumbrante estrada…

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Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

Doutoranda em Linguística pela UFSC, atua como professora de Língua Portuguesa e Redação e escritora, membro da Academia Desterrense de Literatura, ocupante da cadeira 6. É autora de livros e artigos na área da Língua Portuguesa, Literatura e Educação.