“♫ Cause you’ll be in my heart/ Yes, you’ll be in my heart/ From this day on/ Now and forever more/ You’ll be in my heart/ No matter what they say/ You’ll be here in my heart, always” (You’ll be in my heart; Phill Collins).
Já se foram os tempos em que as férias escolares eram motivos de menores preocupações dos pais. Coisas como a criançada chegar atrasada para o almoço ou o jantar, ou chegar completamente imunda das brincadeiras na rua, ou chegar machucada de alguma forma – de arranhões a braços quebrados. Mais raramente com a necessidade de levar pontos na cabeça, como já aconteceu comigo. Bons idos tempos!
Hoje a neurose toma conta da maioria dos pais. Não sem razão. Quem, salvo em raras localidades, ainda deixa seus filhos pequenos brincando na rua sem hora e sem supervisão? E não para por aí.
Do portão pra fora, da porta pra dentro.
Naqueles tempos também havia uma preocupação traduzida pela seguinte frase: “Não fale com estranhos na rua”. Ou sua versão mais doce: “Não aceite bala de estranhos”. Ou seja, o maior desassossego era, em regra, do portão para fora de casa. Os estranhos poderiam ser quaisquer pessoas que não estivessem no círculo familiar ou de amizade dos pais. Hoje se sabe que muitos crimes sexuais contra crianças são, desde sempre, praticados justamente por pessoas próximas. Mas, naqueles tempos, não se pensava nisso.
Agora, embora muitos pais ainda não tenham se atentado com o devido valor, a maior preocupação com os filhos é – ou deveria ser – da porta para dentro. O que está acontecendo com eles diante das telas, sejam computadores ou celulares. Por onde andam virtualmente, com quem conversam, quais amizades, de que atividades participam.
Se antes era praxe – e talvez continue sendo hoje em dia – querer conhecer os pais dos amiguinhos dos filhos que visitavam, no mundo atual essa preocupação deveria ser passada também para o ambiente virtual.
Há notícias e eventos demais para esse meu alerta. Já falei de vários deles aqui, inclusive.
Brincadeiras x paciência x telas
Não é fácil ser pais nos dias de hoje. Reconheço. Como pai de uma mulher de 30 anos e de um moleque de 3, sei das diferenças que essas quase três décadas trouxeram. E, sim, coloco na balança os dois eus tão diferentes, um pai muito jovem e um acima da faixa etária média. Dois pais completamente diferentes na mesma pessoa. Aliados a todas essas assimetrias, meus estudos em direito e comportamento digitais me deixam tão tranquilo quanto apavorado.
Férias com tanta modernidade às mãos – e com um tempo tão chuvoso (lembrando da velha frase da maioria de nossas avós e mães: dia de chuva é dia de criança apanhar) – é um desafio para os pais. Elas, as crianças não podem – e não devem – ser abduzidos pelos celulares, computadores e televisões. Em outro texto já falei dos estudos médicos e sociais sobre tempo de telas para bebês, crianças e adolescentes e por isso não tratarei disso aqui.
Contudo, o dia conturbado e cheio da maioria dos pais gera um dilema complexo, mas que deve ser superado com bom senso e regras. Sim, filhos precisam de regras! E não adianta jogar a responsabilidade da educação deles para as escolas. As férias estão aí para comprovar.
Por isso, é importante que as crianças brinquem as brincadeiras antigas de seus pais, que joguem jogos de tabuleiro, que desenhem em papel de verdade, e que, SIM!!!, tenham momentos de ócio. É no ócio que surgem as melhores e mais criativas brincadeiras delas. E que, no final, poderão ser brincadas e ensinadas a seus próprios pais.