Mais uma vez, o sangue de uma mulher escorre em Jaraguá do Sul. Mais uma vez, um homem decidiu que tinha o direito de arrancar uma vida, de extinguir sonhos, de silenciar uma voz. O feminicídio desta semana não é um caso isolado: é a manifestação mais brutal do machismo que ainda impera em nossa cidade, no Brasil e em uma sociedade que insiste em tratar a violência contra a mulher como “problema de casal” ou “crime passional”. Não há paixão onde há posse. Não há amor onde há controle. Há apenas covardia. O assassino, como tantos outros, provavelmente acreditou que ela lhe pertencia. Que seu ciúme justificava a brutalidade. Que sua masculinidade frágil lhe dava o direito de decidir sobre a vida dela. Essa é a lógica perversa do patriarcado: homens que veem mulheres como objetos, como propriedades descartáveis. E o que é pior: uma estrutura social que, mesmo condenando o crime, ainda cultiva os mesmos valores que o alimentam. Quantos ainda riem de piadas misóginas? Quantos culpam a vítima? Quantos dizem “em briga de marido e mulher não se mete a colher”? Jaraguá do Sul, uma cidade que se orgulha de seu desenvolvimento econômico e segurança, precisa encarar a realidade: ainda somos uma sociedade que fracassa em proteger suas mulheres. Fracassa na educação dos meninos, ensinados desde cedo que masculinidade é sinônimo de dominação. Fracassa no Judiciário, que muitas vezes trata agressores com leniência. Fracassa na cultura, que normaliza a objetificação do corpo feminino. Não basta chorar a morte. É preciso agir. Exigir políticas públicas eficazes. Educação sexual e de igualdade de gêneros nas escolas. Punição severa e célere para os agressores. Uma rede de apoio real para mulheres em risco. E, acima de tudo, uma mudança cultural que ensine aos homens que violência não é poder, mas, fraqueza e ignorância. Enquanto um único homem achar que pode matar uma mulher por conta de um relacionamento conturbado, seremos uma sociedade falida. O feminicídio não vitimiza só a vítima, mas toda a sociedade. E a vergonha deve doer até que a efetiva mudança aconteça. Chega de silêncio. Chega de tolerância. Basta de feminicídios.