Em um cenário internacional marcado por crescentes disputas comerciais, Santa Catarina emerge como um player estratégico, capaz de transformar desafios globais em vantagens competitivas. A rivalidade entre grandes potências, que impõe barreiras e retaliações mútuas, abre espaço para economias ágeis e diversificadas ocuparem nichos antes dominados por gigantes. E é justamente nesse contexto que o estado catarinense, com sua produção industrial qualificada e vocação exportadora, pode obter vantagens no tabuleiro do comércio mundial. A diversificação econômica de Santa Catarina sempre foi um dos seus maiores trunfos. Enquanto outras regiões concentram-se em monoculturas ou dependem excessivamente de um único setor, o estado mantém uma base produtiva equilibrada, que vai da agroindústria à tecnologia, passando por manufaturas de alto valor agregado. Essa pluralidade permite flexibilidade diante de oscilações de mercado e torna a economia menos vulnerável a crises setoriais. Agora, com a guerra comercial entre EUA e China restringindo o fluxo de produtos entre as duas maiores economias do mundo, Santa Catarina tem a chance de ampliar sua inserção internacional, seja substituindo fornecedores em mercados tradicionalmente abastecidos por um dos lados do conflito, seja atraindo investimentos de empresas que buscam reduzir riscos geopolíticos. Do ponto de vista estratégico, a competição sino-americana cria duas frentes de oportunidade. Por um lado, os EUA, ao elevarem tarifas sobre produtos chineses, encarecem importações que poderiam ser supridas por alternativas catarinenses com qualidade equivalente e preço competitivo. Por outro, a China, ao retaliar com medidas protecionistas, precisa buscar parceiros comerciais que não estejam alinhados às políticas americanas, abrindo portas para exportadores como Santa Catarina. O estado já possui reconhecimento internacional em setores como carnes, cerâmica, máquinas e têxteis, todos com potencial para expansão em meio a essa reconfiguração de cadeias globais. Além do comércio exterior, há outro movimento crucial em curso: a relocalização de investimentos. Multinacionais que antes concentravam operações na China agora buscam diversificar suas bases produtivas para evitar sobretaxas e interrupções logísticas. Santa Catarina, com sua infraestrutura portuária eficiente, mão de obra qualificada e ambiente empresarial estável, pode se tornar um destino atraente para esses capitais. O estado já demonstrou capacidade de adaptação em momentos anteriores de turbulência global, e o atual contexto exige justamente essa habilidade, somada a uma diplomacia econômica ativa, capaz de posicionar seus produtos como soluções confiáveis em um mundo fragmentado. No entanto, para aproveitar plenamente essa janela de oportunidade, são necessárias políticas públicas e iniciativas privadas alinhadas. Desburocratizar processos, ampliar acordos comerciais e investir em logística são passos fundamentais. Igualmente importante é fortalecer a marca “Made in Santa Catarina”, associando-a à qualidade, e também à sustentabilidade e à inovação, valores esses cada vez mais decisivos nas negociações internacionais.
A disputa entre EUA e China não é um fenômeno passageiro; reflete uma reordenação estrutural da economia global. Nesse novo mapa, Santa Catarina tem todas as condições de sair da posição de coadjuvante para assumir um papel de destaque, desde que reconheça o momento histórico e aja com audácia. A geopolítica, afinal, premia aqueles que sabem ler suas crises e transformá-las em rotas de crescimento.
14/05/2025 - 06:05