O poeta gaúcho Mario Quintana disse que “viajar é mudar a roupa da alma”. Com o passar dos anos aprendi que viajar consiste em absorver a essência do lugar e as práticas daquelas pessoas que lá vivem, a sua identidade. Meu maior foco não é a política, mas as correntes e tendências que produzem a política do lugar. Dentro desse contexto observei comparando o cotidiano dos neozelandeses quanto à segurança pública. Segurança essa um fato crônico dentro da sociedade que vivemos. Segurança que não se limita ao fato de assaltos ou roubos, mas como um todo; as atitudes do ser humano naquele ambiente que ele vive. Nunca senti-me tão seguro num país, num lugar, quando num período que estive na Nova Zelândia que foi no verão de 2012. Na cidade ou no vilarejo não há preocupação em trancar as portas da casa ou do carro. As casas têm sempre grandes janelas em vidro. Quem circula pela calçada nota quase toda a movimentação interna. Nesse país não existe o hábito de ter cortinas nas janelas. Notei lojas, como uma de utensílios domésticos, dessas que vendem de tomada a desentupidor de pia, onde o cliente adquire o produto e ele mesmo é o caixa. Ou seja, o dinheiro é deixado numa mesa na saída da loja. O vendedor está na loja para ajudar na hora da escolha dos produtos, mas na hora de pagar é você mesmo quem controla o caixa - sem qualquer tipo de supervisão humana. Vi muitos supermercados operando com um sistema interessante. Os clientes passam suas compras no leitor e em seguida passam o cartão de crédito ou débito na máquina ao lado. Sem qualquer supervisão também. Verão na Nova Zelândia são os meses de colheitas de frutas. Na beira da estrada, defronte sua propriedade, o agricultor deixa uma caixa repleta de pacotes com frutas. Quem as deseja leva o pacote e deixa o dinheiro numa lata ao lado. Não há ninguém por perto. Somente o vento que sopra com intensidade por todos os cantos desse país. Fico por muitas vezes a imaginar: se estivesse aqui que filme passaria na cabeça daquele cidadão brasileiro que vibra quando a moça do caixa do supermercado erra no troca em um real a seu favor. Ou aquele cidadão que vai à feira e recheia laranjas de maior valor no pacote de laranjas de menor valor. Ou até mesmo aquele cidadão que levou para casa a torneira do banheiro da empresa onde trabalha.