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Excelente dois mil e…que ano mesmo?

Foto: gerd Altmann/Pixabay

Por: Raphael Rocha Lopes

11/01/2023 - 05:01 - Atualizada em: 11/01/2023 - 11:03

 

“♫ É a cabeça irmão/ Mas que depressão!// Mas que confusão!// Desafinação!// Tá Todo Mundo Louco! Oba!// Tudo está ficando diferente/ Ninguém vê!// Já não compreendo/ A razão do desamor/ Nem entendo porque/ Ninguém fala mais de amor” (Tá todo mundo louco, Sílvio Brito)

No meu primeiro texto do ano passado, desejei boas-vindas ao ano que estava começando. Parecia 2050, tantas as novidades que estavam acontecendo, do ponto de vista tecnológico, disruptivo e social, inclusive com a expectativa da volta à normalidade com o arrefecimento da pandemia da Covid-19.

Esse ano desejo a todos um excelente novo ano, com muita saúde, alegrias e sucesso. Só não sei exatamente em que ano estamos, e nem estou considerando as cenas de selvageria que se viu nos últimos dias no Brasil e nem as guerras que assolam e matam por balas e fome adultos e crianças na Ucrânia, Etiópia, Iêmen, Mianmar, Haiti, Síria e diversos países ou regiões da África.

Mais novos ou mais velhos

Não, ainda não estou senil, e apesar das barbáries mundo afora, que poderiam fazer um viajante do tempo pensar que a humanidade voltou para a era das trevas e do obscurantismo, mesmo que com roupas e equipamentos modernos, sei que estamos em 2023, pelo menos de acordo com o Calendário Gregoriano.

Mas não será incomum pessoas ficarem confusas com vídeos – além das já infelizes e tradicionais fake news e deep fakes – com os quais vão se deparar, mostrando pessoas mais novas ou mais velhas com perfeição quase inimaginável.

Os Estúdios Disney desenvolveram um programa que faz transformações em tempo real da aparência das pessoas, tanto para envelhecê-la quanto para rejuvenescê-la. Se o leitor quiser ver a dimensão do negócio, no meu perfil @raphaelrochalopes, do Instagram, há um trecho do vídeo de demonstração. É impressionante! Muitas horas de maquiagem e de ajustes finos de vários softwares serão poupadas com essa nova tecnologia.

A intenção da Disney, óbvio, é o cinema. Contudo, já há algum tempo marginais adulteram vídeos, passando-se por outras pessoas para cometer seus crimes ou confundir a população.

A cataplexia coletiva

Por outro lado, mas que me traz a mesma preocupação quanto ao tempo que vivemos, se no presente, no passado ou no futuro, vê-se uma certa cataplexia coletiva. E não estou falando daquelas pessoas em Porto Alegre pedindo ajuda para alienígenas.

Refiro-me aos jovens e adultos que, com o celular nas mãos, esquecem que existe vida. Esquecem de interagir com quem está a seu lado. Esquecem que as paisagens fora da telinha são muito mais bonitas e significativas e que é tão fácil desviar o olhar dela. Esquecem que muito mais importante do que uma foto instagramável é o momento de celebração. A foto faz parte, claro, mas é um detalhe perto do que deve realmente representar.

Outro dia vi uma imagem de pessoas não comemorando a passagem de ano, aquele momento exato entre 23:23:59 e 0:00. Estavam todos apenas filmando os fogos com seus aparelhos hipnotizadores. Sem gritos, sem abraços, sem beijos, sem euforia. Assustador.

Lembrei, então, de uma cena vista em 2019 em um restaurante: uma família – pai, mãe, filho (de, talvez, uns 15 anos) e avó – sentada à mesa ao lado da nossa. A avó bem que tentou interagir, puxar assunto, conversar. As respostas dos outros três foram alguns grunhidos e a luz azul das telas destacava o rosto compenetrado dos outros três nos seus respectivos aparelhos. A avó desistiu e passou a mirar o nada, recostada em sua cadeira, com as mãos nos bolsos…

Espero, sinceramente, que esse seja um ano com menos cenas assim. Que as pessoas possam, de fato, estar presentes quando estiverem juntas, e que a loucura, como da música que abre o texto de hoje, seja de felicidade e não de insanidade. Feliz e real 2023!!

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.