Quando pisei nas ruas de algumas cidades alemãs me impressionei com o respeito, e o medo, dos motoristas pelas leis de trânsito. Não há hora ou pretexto para que algum carro avance com o sinal amarelo. Pode até fritar os pneus ou ranger os freios, dar grande susto no passageiro, até mesmo levar uma encostada na traseira, mas também ninguém cruza a faixa de pedestres no amarelo. Não só a multa é pesadíssima, como o infrator tem que se explicar com a justiça, perde pontos na carteira, tem uma enorme chateação. É um comportamento profundamente fixado nos motoristas, símbolo de convívio urbano civilizado e sinal de cidadania.
Entre nós é justamente o oposto. Porque no nosso país em geral, e em Jaraguá do Sul não é nada diferente, a regra é aproveitar até o último restinho do amarelo antes do vermelho e ser mais esperto do que os outros. Pelo menos até a próximo cruzamento. Talvez o sinal amarelo seria como um extra, um bônus, um “chorinho” do verde. Somos tão apaixonados pelo amarelo, símbolo do ouro na bandeira nacional, da camisa da seleção, que o usamos até para mostrar desprezo. Se faltar coragem a alguém em um momento decisivo, dizemos que “amarelou”.
Em cidades maiores, não necessariamente sendo uma metrópole, por motivos óbvios, por causa da insegurança nem o sinal vermelho respeitamos: como nos cinemas, um clássico do mundo urbano brasileiro que respiramos. O Estado não consegue dar segurança ao cidadão e não deveria puni-lo por proteger sua própria vida nesse instante.
Não precisamos ser nenhum sábio no assunto para perceber que, mais do que um mau hábito perigoso é uma metáfora do nosso jeito brasileiro de ser. A pressa que leva ao atraso. Acostumado a atravessar as ruas de Jaraguá do Sul depressa, mesmo com a luz verde, e depois de olhar para os dois lados, até em vias de mão única, tive um choque em Curitiba: descobri que bastava colocar o pé na faixa para que todos os carros parassem imediatamente, em qualquer lugar ou horário, por mais movimentados que fossem. Todo curitibano vai dizer: na minha cidade nós respeitamos a faixa de pedestre. Esse, junto com a limpeza das ruas, dois de seus orgulhos. Já em Jaraguá do Sul, o pedestre tem mais uma barreira quando precisa atravessar: se for alguém mal vestido, mais humilde, tem que esperar mais.
07/04/2017 - 17:04 - Atualizada em: 07/04/2017 - 17:10