Meu primeiro contato com ela foi na Malásia doze anos atrás. Todos queriam apresentar-me, mas como eu teria vontade de conhecê-la? Sua primeira impressão e sinal transmitido foi através de um forte odor de rato morto, pra não dizer de peido. Estrangeiros que a conheciam e a tinham visto não faziam cara de prazer algum. Também não falavam bem dela. Mas tomei coragem e fiquei cara a cara com o assunto, por alguns minutos. Confesso que entrei para o time dos que não a aprovaram.
Após dois anos vou a Indonésia. Lá, todo mundo, mas tudo mundo, perguntava se eu já a conhecia. Contavam histórias que pareciam lendas urbanas, de tão absurdas: se tocá-la você fica uma semana cheirando, após prová-la, ninguém vai sentar ao lado de você. Regras que já tinha visto estampadas em cartazes de um shopping center em Jacarta (a capital indonésia): é proibido levá-la em avião, em trens, em ônibus ou tê-la em sua companhia em qualquer lugar público – inclusive neste recinto.
Em território indonésio, meu encontro com ela foi inevitável. A qualquer momento, uma pessoa que viaja pelo arquipélago se deparará com a dita cuja. Sabia que estava perto, porque seu cheiro já estava no ar: a lendária fruta chamada Durian.
É possível senti-la a centenas de metros de distância. Imagine uma bola grande de futebol americano, verde e ameaçadora, com espinhos. E que solte um cheiro gasoso, inesquecível, penetrante e podre. Perfeita para uma sexta-feira treze! Um odor de decomposição, que paira sobre todos os mercados e bancas de frutas do país. Por unanimidade, os indonésios dizem que é uma delícia.
Uma fruta feia e cara, que tem a fama de ser uma das mais apreciadas iguarias da Ásia. O que deixa qualquer pessoa mais curiosa ainda. Se não fossem os espinhos, passaria por uma jaca, que é muito mais delicada. Por teimosia, porque me achava na obrigação de aprender a gostá-la, comprei uma. Meu plano era levá-la para a hospedagem. Em dez minutos de trajeto numa motocicleta triciclo – que lá colocam cinco pessoas, fazendo o motor de 125 cilindradas gemer e bater igual à taquara rachada, em companhia da coisa malcheirosa e inebriante, deu vontade de pedir clemência.
Parti a casca rígida da durian e me cortei na sua armadura de estegossauro. Nossa, como fedia! Parecia que tinham enterrado alguém com um queijo gorgonzola inteiro nas mãos e, algumas semanas depois, exumado tudo. Aberta a casca, separei a polpa fibrosa e amarelada, expondo gomos de um material gosmento, viscoso, parecido com queijo, que estava em volta dos caroços do tamanho daqueles do abacate. O cheiro interior era menos intenso.
Provado a coisa e vencida a barreira do olfato, começa uma luta necessária com as palavras: fazer um comparativo. Durian é uma fruta que mistura manga e banana, passando pelo maracujá. Porém, se perguntar a um indonésio, ele responderá: durian é durian. Para mim, durian é aversão. Ainda não aprendi a gostar dela. A primeira impressão é a que permanece, pelo menos comigo foi assim.