Por:
Denilson Kasteller – Sócio e COO (Diretor de Operações do Grupo FiscALL)
Transformação digital impõe um novo ritmo à gestão tributária e exige preparo técnico para garantir eficiência, segurança e conformidade em um cenário cada vez mais automatizado
Em um país onde o custo do cumprimento tributário é historicamente elevado — segundo o Banco Mundial, empresas brasileiras gastam, em média, 1.501 horas por ano com obrigações fiscais — a digitalização fiscal surge como alternativa estratégica frente à complexidade regulatória.
Mais do que adotar ferramentas tecnológicas, trata-se de uma mudança estrutural na forma como empresas organizam sua contabilidade, interpretam dados e se relacionam com o Fisco. Com a chegada da Reforma Tributária, essa transição se torna ainda mais urgente.
Digital é mandatório — mas não é simples
Na teoria, digitalizar a gestão fiscal significa automatizar tarefas, garantir rastreabilidade e padronizar dados. Na prática, exige sistemas robustos, integração entre ERPs e plataformas fiscais e equipes capacitadas para lidar com novos formatos de apuração e cruzamento de dados.
O Brasil já avançava nesse sentido com o SPED. Agora, os novos tributos da Reforma (CBS e IBS), baseados na não cumulatividade plena, exigirão ainda mais controle das operações fiscais.
Empresas de menor porte enfrentam desafios maiores: modernizar com poucos recursos, num cenário que exige eficiência e adaptação rápida.
Benefícios de quem faz bem feito
Os ganhos vão além do compliance: redução de erros, segurança jurídica, facilidade no aproveitamento de créditos e previsibilidade. Sistemas integrados permitem simular cenários fiscais, identificar oportunidades e manter conformidade mesmo com mudanças frequentes — especialmente durante a transição da Reforma, até 2033.
Desafios que não podem ser ignorados
Falhas em dados ou parametrizações podem gerar autuações e multas. A proteção de dados se torna essencial em um ambiente de amplo compartilhamento com o Fisco.
Outro ponto crítico é a capacitação das equipes. Tecnologia sem preparo humano é ineficaz. A contabilidade passa a assumir papel estratégico dentro das empresas.
Pequenas empresas: as mais vulneráveis
Apesar do discurso de simplificação, a digitalização combinada à Reforma tende a pressionar micro e pequenas empresas, estruturas com menos apoio técnico. Sem investir em modernização, há risco real de perda de competitividade. Grandes empresas devem priorizar fornecedores com melhor estrutura fiscal e capacidade de gerar créditos
A digitalização fiscal não é só um projeto de TI — é um movimento de negócios. Requer integração entre sistemas, processos e pessoas.
Investir em automação, auditoria digital e consultoria especializada é essencial. Mais do que cumprir regras, é preciso antecipar mudanças, adaptar estruturas e extrair inteligência dos dados.
Quem enxergar esse movimento como oportunidade sairá na frente. Em um dos maiores rearranjos tributários da história, estar à frente pode definir quem prospera — e quem fica para trás.