Bom dia, você que é a consultora de nomes para bebês?
– Sim, mamãe, eu mesma. Em que posso lhe ajudar?
– Queria uma opinião. Meu menino vai nascer no mês que vem…
– E ainda não decidiu o nome.
– Não, não. Já escolhi um. Mas, meu marido não gosta muito.
– Que nome a mamãe escolheu?
– Vinícius.
– Hummmm. Que rica.
– Rica? Como assim? Vinícius é nome de gente rica?
– Não, mãe. Pra colocar o nome de Vinícius no filho, tem que ser rico. Tem muita letra no nome. Veja só: Vi-ní-ci-us. Oito letras, um absurdo! Tá esbanjando vocabulário. Diga-me: quando o bebê nascer, a mãe não quer ganhar do papai um colarzinho de ouro com o nomezinho do filhinho?
– Ah… Gostaria, né…
– E quanto você acha vai custar. Custa o dobro de João, Luís, José, Jair. As letras, né querida. O colar depende da qualidade, rará.
– Não é bem assim, senhora.
– Claro que é! E quando fizer a festinha de um aninho, pra dar inveja nas amigas? Vai fazer painel com o nome da criança? Lembrancinha? Corte a laser em MDF? A maioria dessas coisas paga pelo tamanho, por letra. Não, não. Um absurdo de caro. E pra ele aprender a falar o próprio nome? Vai conseguir fazer isso direito com quase cinco anos! Sem contar escrever. Além de ser um dos últimos da chamada da escola.
– Ah, mas daí a gente chama de Vini.
– Sim, mãe. Dá um nome de rico e depois quer deixar genérico. Me poupe, né! Se você chamar o menino de Vini, tomara que suas primeiras palavras sejam: “Mexe a cadeira e perde a vergonha na cara.”
– Hã?
– Da música! Do Vinny! Não lembra? Olha, já considerou um nome tipo… Ian?
– Ian?
– Sim. Simples, bonito, pode ser com til e duas letras: I-Ã. Não, não… Pra conta do Gmail precisa de três caracteres, no mínimo. Tem que ser com N, mesmo. Iannnnn. Vai ser até mais fácil pra quando ele começar a falar. Qualquer barulho vai parecer que ele falou o nome dele, rará.
– Sei lá… Ian me parece tão…
– Moderno? Também acho.
– Não… Meio insosso.
– Ah, sim. Lindo é Vinícius.
– Eu acho. Quer saber, muito obrigada pela atenção. Acho que vamos ficar com Vinícius, mesmo.
– Não acho uma opinião sensata. Pense bem. De qualquer maneira, tá aqui o meu cartão.
– Tá, mas não é necessário. Já me decidi.
– Ok. Tomara que você seja daquelas mães bem bobas e queira tatuar o nome do filho num lugar bem dolorido e, quando chegar na segunda letra, eu vou aparecer na sua cabeça dizendo: “Viu? Se tivesse escolhido Ian, já estaria quase acabando.”
– Você é meio maluca!
– Ah, e tomara que a tatuagem fique torta! Por que o nome é longo, tem grandes chances. Esses leigos. Aí reclama da crise! Quer nome de rico…
23/04/2016 - 04:04