Há poucos anos o setor produtivo ainda navegava sem bússola por falta de pesquisas que apontassem tendências de consumo e dos mercados, o que fazia do ‘tino’ empresarial uma qualidade indelével daqueles que tinham sucesso. Na era digital, em que as coisas mudam do dia para a noite, não dá mais para ser assim. Por isso as entidades representativas criaram robustos departamentos de pesquisas para calibrar os rumos da indústria, comércio, serviços, turismo e do agronegócio. E um dos mais importantes desses levantamentos é o que mede a confiança do empresário. Com a recessão, as expectativas desceram pelo ralo e só no segundo semestre do ano passado as empresas deram sinal de que voltaram a acreditar no país.
Mas a desconfiança continua grande. Senão vejamos: depois de um avanço expressivo nos últimos oito meses de 2016, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) caiu nos primeiros dois meses em SC, se comparado a dezembro. No último mês do ano o índice tinha sido de 107,2, acima da zona de indiferença (100 pontos). Em janeiro houve queda para 105,8 e em fevereiro para 98,5. Esse resultado aparece ao mesmo tempo em que outra pesquisa da Fecomércio-SC aponta para uma queda de faturamento de 6% nas vendas de material escolar com relação à volta às aulas de 2016.
Os mais otimistas poderiam apelar para os índices de confiança do ano passado (janeiro 88,3 e fevereiro 86,6), mas um crescimento de apenas 10 pontos leva à pergunta: o que é que está pegando? “Havia uma expectativa de dissipação das incertezas em relação à recuperação do mercado de trabalho e do volume de vendas. Também pesa na percepção do empresário a morosidade no andamento da agenda de reformas propostas pelo governo”, responde o economista da Fecomércio-SC, Luciano Córdova.
Cenário Visto das Fábricas
A indústria não sofreu como o comércio o impacto da pior recessão dos últimos 100 anos, que fechou 207 mil lojas (foto). Mas o industrial não transborda de confiança, pelo mesmo motivo do lojista: movimento econômico fraco, desemprego e zero de reformas em Brasília. O Índice de Confiança do Industrial Catarinense (ICEI), medido pela Fiesc, foi de 53,8 em fevereiro, pouco acima dos 53,4 de janeiro. É quase bom: o índice varia de 0 a 100 e 50 significa confiança na economia. Porém, o setor que tem força para alavancar a economia e tirar o país da crise continua na mesma: a confiança do empresário da construção caiu de 50,6 em janeiro para 45,8 em fevereiro.
Outro número terrível aponta que o nível da atividade do setor foi de 45,2 em janeiro, também abaixo da linha dos 50. Sem confiança e sem atividade, a consequência é uma só: o empresário não investe e não emprega. Cabe acrescentar que o setor da Construção ainda vive no tempo do prego e do martelo no que se refere a pesquisas: só em maio sai o 1º. Índice Nacional do Mercado Imobiliário. “A carência de informação no nosso setor é uma coisa impressionante”, confessa o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins.
“Pendura”
Os prefeitos eleitos e reeleitos aguardam com muita expectativa o XV Congresso Catarinense de Municípios, de terça a quinta-feira da próxima semana, na Expoville, em Joinville. E não é só porque vão poder aprender muito sobre convênios, projetos e leis que podem levar recursos e obras para as suas cidades. Também esperam que possa haver uma luz no fim do túnel no caso da dívida que o Estado contraiu por ter deixado de pagar aos municípios nos últimos anos as doações feitas pela Celesc ao Fundosocial. Pelos cálculos da Federação Catarinense de Municípios o Governo deve R$ 540 milhões. O assunto já provocou rusgas, mas pode ser que com a chegada da prefeita de São José, Adeliana Dal Pont, à presidência da Fecam, as coisas melhorem. Afinal, ela é aliada do governador Raimundo Colombo e tem excelente diálogo com ele.
Na Conta
Depois de divulgar o balanço de 2016, com R$ 9,4 bilhões de faturamento e lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, a WEG anuncia agora que 19 mil colaboradores no Brasil recebem no dia 15 de março a parcela complementar de participação nos lucros. É de dar inveja: são R$ 161 milhões. Uma parte, R$ 43,2 milhões, já foi paga antecipadamente em agosto.
Feriadões
Foram muitas – e muito interessantes – as opiniões dos leitores à polêmica que abrimos aqui na semana passada a respeito do excesso de feriadões no Brasil – só pra lembrar, este ano teremos nove. Das quase três dezenas de e-mails que recebemos, a maioria – de trabalhadores e de pessoas da área de turismo – foi a favor dos feriadões. Uma abordagem interessante foi feita pela Meiri Gusi Américo, que trabalha numa metalúrgica em Jaraguá do Sul: “O país está em crise, um grande número de lojas fechando as portas e a indústria com redução de jornada e de salário. Tirar o feriadão não vai mudar esse cenário. Se não tem trabalho nem para os dias normais, por que implicar com os feriadões?”, pergunta a Meiri.
Já o comerciário Adolfo Luiz Diaz, de São Miguel do Oeste, considera que os feriadões “são importantes para que a gente possa ficar mais com a família, aproveitar a vida que já é muito corrida”. Do lado dos que são contra o excesso de feriadões está, por exemplo, o pequeno empresário Rodolfo Berger, de Otacílio Costa: “Pode ser até que em cidades turísticas isso seja benéfico, mas pra nós aqui no interior é ruim, principalmente para quem está produzindo bastante e crescendo. E é ruim pra quem está no vermelho, porque afunda mais ainda”.
Da Briga
Outra nota da edição anterior que repercutiu bastante foi a da pesquisa feita pelo SPC Brasil sobre o orçamento familiar, revelando que quatro em cada dez (39%) dos casais brigam com o parceiro por causa de dinheiro. Entre os comentários que recebemos está o da advogada Mari Ronconi, de Rio Negrinho. “Em relação aos divórcios e dissolução por causa de dívidas tenho que realmente concordar, porque na prática da advocacia já se percebe que esses números refletem a realidade, o cotidiano”. É Mari, não está fácil pra ninguém.