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Como seria o mundo sem mosquitos?

foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

19/03/2024 - 09:03 - Atualizada em: 19/03/2024 - 15:34

 

“♫ Eu sou a mosca/ Que perturba o seu sono/ Eu sou a mosca/ No seu quarto a zumbizar” (Mosca na sopa, Raul Seixas).

Acredito que muita gente suspirou em rápido devaneio imaginando um mundo sem mosquitos, ou moscas – como essa chata da música do Raul Seixas. Afinal, como seria um mundo sem mosquitos? Sem moscas? Sem baratas? Sem assassinos? Sem idólatras? Sem fake news? Sem fake news compartilhadas pela internet?

Dos primórdios.

Fofocas, boatos e mentiras sempre existiram. As tais fake news. Dizem que a cobra mentiu para Eva. Eva passou a mensagem para Adão. Deu no que deu. Estão mentindo desde lá para você.

Em tempos mais recentes e de histórias mais terrenas, as pessoas adoravam (e continuam adorando) uma fofoca perniciosa, aumentada, com leves ou pesadas pitadas de, digamos, desinformação (uma mentirinha com nome travestido). Era uma vizinha falando para outra, de uma terceira. Os amigos de escola contando vantagem sobre as garotas com quem nunca ficaram. Os colegas de trabalho esnobando as viagens que, em realidade, queriam ter feito.

Quando muito, uma notícia deturpada em alguma revista ou jornal. Depois no rádio e na televisão. Distorções limitadas e que normalmente, nestes casos profissionais, tinham pernas curtas porque alguém percebia o erro – intencional ou não – e a errata vinha. Como sempre, quase nunca resolvendo efetivamente os problemas das vítimas.

Até hoje em dia

Em tempos ainda mais recentes e de histórias terrenas em meios virtuais, a dificuldade do jogo aumentou. Muito! Hoje espalha-se mentiras com um apertar de botão ou um enviar na tela touch.

A vizinha não conta mais maldades duvidosas da outra vizinha para a vizinha mais querida. Fala para o bairro inteiro, a cidade inteira e isso pode chegar até em países que ela nem sabe que existem. Os garotos não confidenciam mais mentiras sobre as garotas nos intervalos das aulas. Postam montagens sexualizadas delas nas redes sociais ou compartilham nos aplicativos de mensagens como se não houvesse uma vida a ser destroçada com estes atos. E os colegas de trabalho vivem fazendo inveja com fotos instagramáveis em seus perfis.

Com a inteligência artificial ou mesmo sem ela, mas com bons aplicativos (e agora baratos ou gratuitos) qualquer pessoa pode criar qualquer coisa para falar mal de quem quiser. Para aniquilar a vida de quem quiser. Qualquer pessoa do mal, frise-se. E tenho, cada vez mais, sérias dúvidas sobre as pessoas que dizem que apenas compartilham as fake news.

Na realidade, o homem ainda faz o que o macaco fazia, o homem cria e também destrói, como diriam os Titãs. Com ou sem a mosca da sopa do Raul. Com ou sem os mosquitos que infernizam as nossas vidas.

A propósito, não tenho a mínima ideia de como seria o mundo sem mosquitos. Mas tenho certeza de como seria sem fake news…]

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.