“Como e por que desenvolver o hábito da escrita?”

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

02/04/2022 - 15:04 - Atualizada em: 02/04/2022 - 15:07

De acordo com Emília Ferreiro (2010), psicóloga e pedagoga argentina, radicada no México, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget, “a escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural”, resultado do esforço coletivo da humanidade. Assim sendo, como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções de existência.

Ouço, desde pequena, que quem escreve bem é quem lê bastante! À medida que fui crescendo, esta fala tornou-se uma crença e eu já me peguei repetindo-a a fim de orientar os alunos a lerem bastante. Durante as aulas de português, escutei inúmeros relatos de alunos, destacando vários pontos para justificarem o porquê de não lerem com tanta frequência e, juntamente com eles, concluímos que o fato de não ter contato com os livros prejudica (e muito) na escrita dos textos.

Pois bem, no que tange à experiência profissional, os anos foram generosos comigo, pois já atuei como professora em todos os segmentos (ensino fundamental, ensino médio, cursinho pré-vestibular, graduação, cursos de especialização, orientação de TCC de graduação e membro de banca de especialização da área da educação), e essa gama de oportunidades me ajudou a enxergar a escrita de uma maneira muito peculiar e essencial na rotina humana. Ferreiro (1986, p. 14) menciona que “por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa.” Somos seres pensantes e pulsantes. Seres cheios de vida e vivências.

A partir da minha vivência como aluna, professora e escritora essa crença caiu por água abaixo, pois, além de ler é imprescindível escrever, visto que quem escreve bem é aquele que escreve com constância! Essa descoberta foi um divisor de águas na minha vida profissional e pessoal, haja vista que não basta, apenas, o sujeito ler se não puser em prática a escrita, a fim de usá-la, explorá-la e aprimorá-la – em todas as suas possibilidades.

Acreditem: só escreve bem quem escreve.

Se você ainda não tem o hábito de escrever, pode iniciar com rabiscos simples de como foi o seu dia hoje. Em seguida, aos pouquinhos, perceberá que o texto carece de complementações, detalhes e até de uma emoção. No que se refere à escrita criativa ou literária, não é novidade que a escrita extrai e carrega para o papel emoções e pensamentos que, muitas vezes, preferimos ignorar.

Além do mais, o ato de escrever nos torna mais produtivos, melhora a compreensão e a comunicação, porque quando escrevemos, ao contrário do que acontece quando falamos, buscamos palavras e expressões mais sofisticadas, que descrevam de modo fiel o pensamento em questão. Assim, a aquisição dessas competências ajuda-nos no que se refere à clareza de linguagem, quando necessitarmos compreender e/ou transmitir ideias complexas.

Ao escrevermos, também, aumentamos a nossa criatividade. Mas, por que precisamos desenvolver a criatividade? Porque sem criatividade não há arte, inovação e empreendedorismo, nem ao menos respostas para os vários desafios do cotidiano.

Bem, dentre as minhas buscas como professora (e também escritora) até o momento, procurei descobrir como me relacionar de modo familiar com a escrita e com o desejo de “poetizar” e narrar causos. Ao imaginar frases, parágrafos, narrativas e cenas dentro da minha cabeça, sigo ao próximo passo que versa em transmitir as ideias para o papel. E muitos alunos perguntam-me: como passar as ideias para o papel?

Creio que a resposta vai além de técnicas e estudo. Valer-se de motivação e constância no que tange ao processo de escrita é fundamental. E isso não significa ter de escrever trocentas mil palavras. Cada um tem o seu tempo e ele precisa ser respeitado.

Preparei para vocês três exercícios de escrita criativa que funcionam como um combustível, tanto para quem está buscando esse hábito, quanto para quem precisa desbloquear-se. Mãos à obra!

1 – Viajando pelo mundo

Você já pensou em viajar sem sair de casa? Acesse o link: https://earthroulette.com/ e gire a roleta. Quando tiver a indicação do país de destino, incorpore-se na pele de um turista e registre as suas impressões e aventuras nesta viagem (fictícia). Marque 15 minutos no relógio, permita-se viver e deixe a criatividade rolar solta.

2 – Uma carta ao meu “eu” do futuro

Escreva uma carta para a pessoa que você será no futuro – você escolhe o tempo futuro (daqui um ano, dez ou mais). Cronometre 15 minutos e deixe as palavras fluírem. Escreva sem interrupções – não procure sinônimos ou se apegue às normas.

3 – Janelando…

Qual é a vista mais inspiradora de uma das tuas janelas da tua casa? Descreva o que puder observar desta janela e dentro do teu coração… Lembre-se que a atenção plena aos detalhes pode dar vazão a temas extraordinários.

Referências bibliográficas

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Tradução de Diana Myriam Lichtenstein et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

FERREIRO, Emilia. Reflexão sobre alfabetização. 25.ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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