♫ “It’s a dead man’s party/ Who could ask for more?/ Everybody’s comin’ leave your body at the door/ Leave your body and soul at the door”♫ (Dead man’s party; Oingo Boingo)
Nos últimos anos, especialmente ano passado quando foi considerada a expressão do ano por uma grande universidade americana, um termo tem ganhado força para descrever um fenômeno preocupante: brain rot, ou “podridão cerebral”. A expressão, popularizada na internet, reflete a sensação de exaustão mental e declínio cognitivo que muitas pessoas sentem após passar horas consumindo conteúdos rápidos e rasos, especialmente vídeos curtos em redes sociais. Mas o que está acontecendo com os cérebros? Por que se fica tão viciado nesse tipo de estímulo? E, mais importante: como evitar esse ciclo?
A resposta para essa dependência está na dopamina, um neurotransmissor responsável por sensações de prazer e recompensa. Cada vez que se assiste a um vídeo curto no TikTok, no Instagram ou no YouTube, o cérebro recebe uma pequena dose de dopamina. Como esses vídeos são curtos e altamente estimulantes, o cérebro se acostuma a receber recompensas rápidas e constantes, tornando-se cada vez mais impaciente com conteúdos longos ou que exigem mais esforço cognitivo.
Capacidades decadentes
Isso cria um problema grave: a capacidade de concentração e de retenção de informações fica comprometida. Antes, assistir a uma palestra ou ler um livro não gerava grandes dificuldades. Hoje, muitos se sentem inquietos após poucos minutos de leitura, buscando constantemente estímulos rápidos para manter o interesse. A internet treinou o consumo de informações de forma fragmentada, impedindo a reflexão e a retenção de conhecimento profundo.
Além disso, os algoritmos das redes sociais são projetados para manter os usuários engajados pelo maior tempo possível. Eles analisam suas preferências, aprendem quais conteúdos fazem o usuário permanecer na plataforma e ajustam as recomendações para prendê-lo ainda mais. O problema é que essa experiência não é neutra: ela molda a forma como se pensa, se concentra e se interage com o mundo.
Remédios
Não há fórmula mágica, mas algumas estratégias podem ajudar a reverter esse processo de apodrecimento cerebral:
1. Limitar o tempo de tela: definir horários específicos para o uso das redes sociais e evitar o consumo desenfreado de vídeos curtos pode ajudar a reequilibrar o cérebro.
2. Reintroduzir leituras longas: voltar a ler livros e textos mais extensos, mesmo que no início pareça difícil, ajuda a recuperar a capacidade de concentração.
3. Evitar o uso excessivo de múltiplas telas: assistir a um vídeo enquanto mexe no celular ou verificar redes sociais enquanto vê um filme reduz ainda mais a capacidade de atenção.
4. Praticar o tédio: momentos de pausa sem estímulos digitais são essenciais para o cérebro processar informações e estimular a criatividade.
5. Consumir conteúdos que exijam mais esforço cognitivo: debates, podcasts aprofundados e documentários sérios são ótimas formas de desafiar a mente e evitar o consumo excessivo de conteúdo superficial.
Mas a mudança desse cenário não depende apenas de escolhas individuais. Há uma crescente preocupação entre educadores, neurocientistas e formuladores de políticas públicas sobre os impactos do brain rot nas gerações mais jovens. A popularização de conteúdos cada vez mais curtos e fáceis de consumir pode levar a dificuldades de aprendizado e a um desinteresse geral por temas que exigem esforço mental.
Plataformas digitais e criadores de conteúdo também precisam assumir suas responsabilidades, mas esta é uma questão longa e complexa para este espaço agora.
O brain rot é um problema real, mas não irreversível. Assim como o cérebro pode se acostumar com estímulos curtos e imediatos, ele também pode ser reeducado para buscar experiências mais profundas e significativas. O primeiro passo é reconhecer o problema. O segundo, começar a mudar hábitos antes que percamos de vez a capacidade de atenção que nos torna verdadeiramente humanos.