O mundo é redondo e, consequentemente, dá voltas. E a vida oferece situações muito curiosas. Senão vejamos. Na madrugada de quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou, por larga margem de votos, o projeto da dosimetria, que, em última análise, vai reduzir substancialmente a pena daqueles supostamente envolvidos na inexistente trama golpista, mas que foram condenados com sentenças absolutamente desproporcionais e despropositadas. Tudo definido por muitas supremas togas deste país, sempre com a palavra final do imperador Alexandre de Moraes. Deu no que deu.
O próprio Jair Bolsonaro está recolhido na carceragem da Polícia Federal, com uma pena superior a 27 anos. Pelo projeto aprovado na Câmara, a pena será reduzida para pouco mais de dois anos. Uma vez aprovado pelos deputados, o projeto foi imediatamente encaminhado ao Senado.
No colo
O presidente da CCJ, Comissão de Constituição e Justiça, o baiano Otto Alencar, designou o catarinense Esperidião Amin como relator. O ex-governador está na missão de entregar seu parecer na próxima quarta-feira (17).
Data
Já há uma decisão de que a CCJ votará o parecer na própria quarta-feira, data na qual o assunto será submetido ao plenário do Senado, que, antes de entrar em recesso, deliberará sobre a matéria.
Postura
Esperidião Amin já sinalizou claramente que, sendo favorável à anistia, dará parecer positivo, respaldando o projeto aprovado pela Câmara. Mas não deu maiores detalhes. Bem ao seu estilo, Amin avisou que vai estudar a matéria e ouvir seus colegas — e faz muito bem.
Passado
O curioso nisso tudo é que Esperidião Amin tem uma longa convivência com Jair Bolsonaro. Durante pelo menos três mandatos, os dois tricotavam no plenário da Câmara dos Deputados, a ponto de Jair Bolsonaro, quando teve sua campanha à Presidência interrompida em 2018 pela facada em Juiz de Fora, na primeira entrevista ainda no leito do hospital, falar de Esperidião Amin.
Afinidade
Bolsonaro lembrou dos papos que sempre mantiveram no Parlamento. Aliás, aquela manifestação do ex-presidente, só para registrar, foi fundamental para a eleição de Amin à Câmara Alta.
Baralho
Voltando às voltas do mundo, Jair Bolsonaro indicou seu filho Carlos para a vaga do PL ao Senado, privando a candidatura natural de Carol De Toni. A outra vaga cabe a Jorginho Mello indicar. O governador já sinalizou que seria Esperidião Amin.
Importado
O curioso é que Carlos Bolsonaro está vindo para Santa Catarina para ser candidato, sendo ele carioca, e ainda quer impor o outro nome, dizendo que vai concorrer ao Senado e vai ajudar Carol De Toni.
Novo
A deputada, aliás, muito provavelmente em março, na janela partidária, se prevalecer essa tendência, buscará abrigo em outro partido.
Tratorando
Ou seja, de alguma maneira, a postura de Carlos atropela e afronta o governador, além de ser deselegante em relação a Esperidião Amin, amigo do seu pai e que, segundo Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, era o outro nome, junto com Carluxo, ao Senado. Só que Carlos Bolsonaro quer fazer média com Carol, que lidera em todas as pesquisas de opinião na corrida ao Senado da República.
Expectativa
Como o mundo não para de girar, agora a dosimetria está nas mãos do relator Esperidião Amin, que evidentemente não vai utilizar esse parecer para nenhum tipo de negociação ou pressão com vistas à composição da chapa majoritária.
Aprendizado?
Mas o episódio serve de lição para os filhos de Bolsonaro, a começar por Carlos, que é especialista em ser desagradável com aliados. Aliás, postura arrogante reforçada também por Eduardo Bolsonaro, que está no exterior.
Pavimentação
O primogênito Flávio, por sua vez, tem tido postura mais discreta. Ao fim e ao cabo, como na vida, na política o mundo dá voltas e não para de girar — e o cidadão que tem juízo no exercício da prática política vence os obstáculo de forma mais fácil e consistente.